quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Mercado e consumo na indústria fonográfica

Gostei da visão desse cara. Necessariamente discordo. Mas merece consideração. Em suma, a entrevista trata dessa relação de mercado e consumo. Assunto manjado, é verdade. Mas sempre bom colocar em voga para novas discussões. Creio na importância da discussão porque trata também de cidadania. Imagine você acompanhado do seu filho de 12 anos, em praça pública, na inauguração de algum equipamento de lazer em sua cidade. A prefeitura convida um desses forrós chulos e vocalista faz alusão ao alcoolismo, chama você de rapariga ou corno, cachaceiro, etc. Essa realidade precisa ser mudada. E o cara aí comenta a respeito.

"Temos muita cultura com potencial para mesclar ao fator comercial"

Quem nasceu primeiro: o mercado ou o consumo? De certo, a resposta é mais simples do que o eterno mistério entre o ovo e a galinha. Mas as novas composições forrozeiras levantam a questão. A banda potiguar Forró Salgado tem no vocalista Wyry Paiva um pesquisador do assunto e dos novos ritmos do gênero. Licenciado em Letras e Artes pela UERN, o artista expõe opiniões pouco divulgadas no meio forrozeiro, e confessa: “Quem frequenta o forró hoje é o playboy e a patricinha. Para inserção no mercado tem de se cantar a realidade burguesa”. A banda – já com cinco CDs e um DVD – encerra hoje a programação no Cirquinho de Pirangi, junto às veterenas Cavalo de Pau e Mastruz com Leite.

Entrevista – Wyry Paiva

Qual a inovação impressa no trabalho de vocês?
O RN tem força política inferior a outros estados nordestinos. E não quero que o meio em que vivo sofra da mesma inferioridade. Tenho pesquisado essa identidade potiguar. Temos muita cultura com potencial para mesclar ao fator comercial. O côco zambê, por exemplo, mesclado ao reggaetown, de fora. Em junho pretendemos lançar novo CD já com esse estilo definido e mesclado ao forró – estilo mais lucrativo, porque também temos de pensar no lucro. Então, tenho pesquisado esses ritmos inseridos no universo do forró para garantir contratos e mostrar inovação.

Sua formação acadêmica de licenciatura em Letras e Artes pela UERN contribui na elaboração das composições da banda?
Sim. Faço questão de 70% do repertório ser autoral da banda. No DVD foi de 80%. Mas nem sempre o que queremos é o que o público quer. Escrevo a música que o povo quer ouvir. A forma de tocar é que é do nosso jeito.

E o que o povo quer ouvir?
O povo quer ouvir o mais volátil. O refrão tem de ser pequeno, fácil de aprender porque o tempo de sobrevida das músicas hoje é curto. Dura um máximo de três meses. Às vezes produzem coisas patéticas; às vezes, legais.

É o retrato da modernidade veloz...
Tudo é muito efêmero, hoje. É como a coisa do “ficar”. Você fica com uma garota hoje e amanhã quer outra – acho um bom comparativo com a realidade do forró hoje em dia.

Os forrós eletrônicos trazem alusões ao sexo, ao alcoolismo ou ao comportamento desvirtuado para uma juventude sadia e educada. O maior sucesso de vocês se chama Rei da Farra. De que trata a música?
Faz alusão ao que o jovem da classe média é ou tem vontade de ser: um cara endinheirado, com carrão cheio de mulheres turbinadas e muito uísque. É a visão do playboy. Não é desvirtuamento. Dessa forma encaixamos o trabalho da banda ao que o mercado pede. Imagina uma banda de forró com músicas didáticas? Espero que o mercado vença essa barreira. Eu nunca bebi, nunca usei drogas e nem entrei em cabaré.

Mastruz com Leite e Cavalo de Pau ainda cantam o amor, as coisas do sertão, a vida do vaqueiro. Essa toada não tem mais mercado?
Não temos mais grande êxodo rural. O nordestino não vive mais tão aperriado. E os pobres não vão mais à festa. O forró vem do for all (para todos). Não é mais assim. Luiz Gonzaga trouxe o forró do sertão à metrópole. As bandas de baile iniciaram o forró eletrônico em festas, vencendo a barreira do que era considerado brega, música de pobre. Isso até surgir o Mastruz com Leite, que montou rádio e estúdio e popularizou de vez o estilo no meio social. E quem vai hoje à festa é o playboy, a patricinha ou quem quer ser aceito por esse grupo social. Então, cantamos essa realidade burguesa, mesmo que talvez utópica.

Primeiro se muda o público...
E depois o mercado. O pai de hoje foi aquele que ouviu música de qualidade, se formou em condições piores, conquistou status e oferece hoje ao filho melhores condições, uma realidade diferente da que viveu. Então, cabe aos pais também mostrar música qualificada em casa: o que ele ouvia no passado.

* Publicado hoje no Diário de Natal

4 comentários:

  1. Sem querer criticar mas já criticando, o cara falar sobre forró e não sabe nem de onde o nome vem o nome nao dá para levar a sério.

    Forró não veio de for all, lenda alimentada pelo pior filme já feito na história do Brasil (ForAll, rodado aqui em Natal).

    Tá mais certo de ter vindo da expressão forróbodo, jackson do pandeiro e afins...

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  2. Dá-lhe, Foca! O cara não sabe de p. nenhuma e ainda se diz pesquisador? Sei não...

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  3. O cara do qual vcs estão falando nasceu no meio da música e vive dela, formou-se pela UERN em lingua inglesa e artes e pesquisa as peculiaridades do forró contemporãneo e suas origens. Aos grandes intelectuais que o criticaram, sugiro a leitura da história em fontes populares pois é de real conhecimento que essa é a origem do nome Forró. (For All) quando da dominação extrangeira.
    Abraços aos senhores e meus sentimentos pelo infeliz comentário.

    Meu nome é Marcos, não sou anônimo.

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  4. Pois é. Até onde sei é que há várias versões para o fato, e que o for all seria uma delas.

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