segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Entrevista - Isaura Rosado

“A Fundação não precisa de muito dinheiro”

Isaura Amélia Rosado assume a novíssima Secretaria Especial de Cultura após drible estratégico no nepotismo. Parente da governadora e impedida de herdar diretorias, a exemplo da direção geral da Fundação José Augusto, assumirá amanhã a Secretaria Especial de Cultura até o envio da proposta de criação da Secretaria propriamente dita, desvinculada da pasta de Educação ‘e Cultura’. A nomeação da equipe, inclusive o diretor geral da FJA, passará pelo crivo ou indicação da governadora Rosalba.

A situação de penúria e quase “insolvência” da FJA declarada pelo atual gestor da FJA Crispiniano Neto a este Diário de Natal, foram recebidas com certa ironia por Isaura Rosado. “A Fundação não precisa de muito dinheiro. É fácil fazer cultura”. Acessível às investidas da imprensa, sem intermédiários, a nova comandante de uma embarcação quase naufragada pelo desprestígio governamental aposta no passado de Rosalba e na política de editais para levantar o barco da Cultura.

Entrevista – Isaura Rosado

A então candidata Rosalba Ciarlini afirmou que não criaria a Secretaria de Cultura porque a FJA acumularia as mesmas funções, e bastaria enxugar o quadro para melhor gestão. O que levou a governadora eleita a mudar de opinião? Partiu da senhora a ideia?
Rosalba tinha razão quando falou das funções similares entre a FJA e a Secretaria. No entanto, a Secretaria como forma de matizar a valorização da cultura sempre foi discutida, reivindicada, proposta, pensada, sugerida por artistas e produtores culturais.

Especulações afirmam que a motivação da Secretaria seria driblar o nepotismo e nomear a senhora.
A Fundação cumpriu há 30/40 anos o papel que hoje é desempenhado pelas ONGs e OCIPs. Era uma estrutura mais leve, quase sempre de direito privado, mas flexível. Atendia, sem tanta burocracia, as ações demandadas pela cultura, no caso das fundações de cultura. Ao longo dos anos essa estrutura modificou, chamada a cumprir preceitos emanados das constituições e diplomas legais. Hoje, em pouco ou nada se diferencia da administração direta, de uma Secretaria de Estado. A FJA é de direito público, portanto impedida de participar de editais e programas específicos de entidades de direito privado. Vamos considerar isso nas discussões e na proposta. A FJA está vinculada à Secretaria de Educação, mas respeita todos os trâmites burocráticos de uma secretaria. Assim, a FJA tem o ônus, mas não o bônus. Defendo a tese de que a cultura também precisa de uma estrutura de direito privado sem fins lucrativos que facilite a captação de recursos. Quando estive na Fundação, concorremos a um edital para elaborar o Inventario do Patrimônio Cultural Potiguar. Recorremos ao IGETUR para apresentar o projeto, porque a Fundação não podia concorrer.

E a questão do nepotismo?
E sobre esta parte “embaraçosa” da sua pergunta, devo dizer que vi pela imprensa que o deputado Betinho Rosado foi convidado para a Secretaria da Agricultura. Tanto no Congresso como na Secretaria, ganha o RN. Como eleitora e irmã, digo que Betinho é sério e competente, honesto e bem intencionado. São as “escolhas” que precisamos fazer. E a Governadora? Não tergiversa, cumpre a lei.

Hoje a FJA recebe R$ 18 milhões anuais e mais de 80% são destinados à folha de pagamento. A proposta anunciada por Rosalba foi de 1% do ICMS, o que daria pouco mais de R$ 30 milhões. Esse valor será acrescido aos R$ 18 milhões? Já há uma dotação orçamentária estimada à nova Secretaria?
Ainda não me debrucei atentamente sobre orçamento. Esses valores que você aponta, correspondem à folha de pagamento (1.400 x 13). O Fundo deve operar na direção do fomento à cultura, sobretudo realçando e financiando ao mais genuíno das nossas manifestações. Não esquecer os quatro milhões da renuncia fiscal a favor da cultura da Lei Câmara Cascudo. A experiência da governadora em Mossoró e o impacto das ações culturais sobre a auto-estima do povo mossoroense, o aplauso que ela tem recebido do movimento cultural me dão a certeza de que haverá bons investimentos na cultura, tão logo estejam equilibradas a contas do Estado. Outro dia até acompanhei a governadora ao espetáculo dos Clowns de Shakespeare dirigido por Vilela, um dos diretores do Auto da Liberdade. Ao final do espetáculo, Diogo Vilela fez um depoimento verdadeiro e incisivo sobre a compreensão e o apoio de Rosalba à cultura e o que ela tinha modificado Mossoró, afiançando e endossando o que virá pela frente..

A senhora tem ideia da atual situação financeira e administrativa da FJA?
Tenho o relatório entregue pela comissão de transição.

Então deve estar informada da incapacidade de investimento da instituição? Crispiniano disse ontem ao DN que precisará de pelo menos um ano para o Governo ajustar as contas.
Não vai demorar tanto. Vai ser rapidinho. Espere que vocês verão. A Fundação não precisa de dinheiro para funcionar. Têm muitos editais por aí. É fácil. Mas será que terça eu poderia dizer isso novamente? (ri). Vamos começar com algumas publicações.

A Revista Preá será mantida?
Sim. Parece que a atual gestão publicou dois números? Em um ano na Fundação fiz duas e deixei uma terceira quase pronta. Na Fapern publicamos 12 números da revista científica.

A indicação de Maria Bernadete Cordeiro à Fapern foi da senhora? A intenção foi de parceria com a FJA?
Bernadete foi co-reitora de Pesquisa e Graduação conosco. Foi amiga do professor Lacerda (diretor da Fapern antes de Isaura). Nós conversamos e achamos um bom nome. Ela foi colega de turma da governadora. Então, foi uma decisão unânime e que servirá para futuras parcerias entre Fapern e FJA, que nunca houve.

A política de editais será mantida? A senhora já tem em mente uma grande marca para os próximos anos de sua gestão?
A minha última experiência administrativa foi na Fundação de Pesquisa do RN. La só operamos através de editais. Concorrendo aos nacionais e outras agências financiadoras para captação de recursos. Ou abrindo editais por fomentar a pesquisa cientifica junto às academias e empresas. Por onde ando, tento encontrar um espaço para a cultura. Agora na Fapern, a criação do Salão Abraham Palatinik de artes visuais, com um prêmio aquisição para a arte que se utiliza de tecnologias, a realização de oficinas, editais para publicação de livros, o cuidado com a revista Ciência Sempre, de excelente qualidade gráfica e técnica, mantendo a periodicidade -12 números em três anos -, inclusive recebendo pela primeira vez o Qualis, comprovam este meu proceder. Como Adjunta da Educação, A Mostra de Cultura Popular é outro exemplo. O Auto da Liberdade em Mossoró concebi e sugeri quando estava aqui em Natal trabalhando. Sempre pensei e desejei, sonhei também, que sendo Rosalba governadora, poderia colaborar nesta área. As ações serão do governo e muitas já foram divulgadas na proposta durante a campanha, vamos precisar da colaboração de todos.

* Publicado no Diário de Natal de domingo

Um comentário:

  1. Olá, Ségio. Veja você a diferença de perspectiva da coisa pública, da relação no trato com a cultura entre o Sr. Crispiniano Neto e a Senhora Isaura Rosada. Está bem claro para mim e muitos setores da sociedade potiguar que faltou boa fé, competência, elegância, um bocado de inteligência na gestão de Crispiniano. Isso ninguém tem dúvida.E você, Sérgio, um rapaz inteligente e esperto, sabe perfeitamente disso. Esperamos e torcemos, portanto, que a nova administração de Isaura possa fazer um trabalho digno, corajoso, decente, competente.
    Saudações, e que o blog continue bombando em 2011.
    Marcos Ferrreira

    ResponderExcluir