quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Entrevista - Nuno Mindelis


Um dos maiores guitarristas do mundo é atração hoje em Natal dentro do projeto Clube do Blues. O angolano Nuno Mindelis tocou com nomes lendários do gênero originado nos guetos negros dos Estados Unidos. Foi eleito o melhor guitarrista de blues do mundo pela bíblia do segmento - a revista americana Guitar Player - e mesmo com nome reconhecido no cenário nacional e internacional, conserva o jeito simples, de voz pacata, longe do virtuosismo energético dos solos e hiffs de guitarra que empreende em seus shows, onde costuma descer do palco e tocar junto à galera.

Nuno Mindelis - autor de seis álbuns de blues já lançados (sendo cinco em inglês e o último em português) atendeu ao contato telefônico do Diário de Natal, no fim da manhã de ontem, quando estava na fila de embarque para Natal. Conversou rápido. Pediu pra ligar depois de dez minutos enquanto passava pelo check in e pediu desculpas pela impossibilidade da melhor atenção. "Qualquer coisa chego por aí por volta das 15 horas. Pode voltar a ligar ou ir lá no show. Vai ser legal: o ambiente é de blues, mesmo. Pode apostar", recomendou.

Entrevista - Nuno Mindelis

Você viveu em Angola até os 17 anos. Como o blues apareceu pra você?
Houve um boom do blues naquela época. Ingleses como Eric Clapton, Jeff Back, Jimmy Page apontavam o ritmo para o mundo, imitando os negros de Chicago. E eu estava naquela idade, entre os 13 e 14 anos, de sofrer influências. Aquilo foi marcante pra mim. E com o blues acontece assim: vem de berço.

Você se dedica 24 horas ao dia ao blues? A pecha de roqueiro lhe ofende?
Pelo contrário. Na época o rock e o blues se confundiam bastante. Sou um roqueiro; um rocker roller. Faço outras coisas, também ,mas a matéria-prima de tudo é o blues. Posso até tocar samba, mas minha orientação parte do blues. É como o café, usado junto ao leite ou outro derivado. Meu café é o blues.

Você recebeu o disputado prêmio da Revista Guitar Player como melhor guitarrista de blues do mundo. O feito lhe abriu portas para tocar, por exemplo, com alguns dos seus ídolos?
Abriu. Toquei com o Double Trouble, com o John Turner, baterista do Johnny Winter, que tocou no Woodstock. Toquei com Magic Slim. E uma jam session com o Bo Didley e Ronnie Earl. Mas não ligo muito pra isso; não sou bluesófilo de guardar palhetas dos caras.

E dos brazucas, mesmo fora do blues?
Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Martinho da Vila, o Zé Ramalho, que é uma espécie de Lou Reed brasileiro…

Imagino então que de tanto tocar e estudar blues você escute outro estilo musical em casa.
Realmente não ouço blues. O gênero está desgastado, não se renova. O último álbum interessante foi o de Jimmy Rogers, o All Stars, lançado na década de 90.

Dá pra viver bem do blues no Brasil? Há um público cativo em cada região?
Dá pra sobreviver. Até daria pra viver se você não tivesse filho nem esposa pra sustentar.

Que tal migrar para o axé ou sertanejo e tirar uma grana da música?
É muito difícil. É o mesmo que eu pedir pra você ser jornalista da Contigo. Quando você atinge um nível de refinamento fica difícil voltar atrás. E além do mais, o contrário também serve: eu não saberia tocar; por mais rudimentar que seja, é uma praia que não domino. E nem faço questão.

Nuno Mindelis - Clube do Blues
Data e hora: Hoje, às 22h30
Onde: Budda Pub (Av. Roberto Freire, 9102, Ponta Negra)
Quanto: R$ 20 (sócio) e R$ 25 (ñ sócio)
Contato: 3219-2328

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