A energia vocal de Júlio Lima parece libertar músicas aprisionadas há séculos. É pura potência afinada à virtuose instrumental de guitarras, batuques e grooves; vontade de explodir música pelos poros. No palco, a figura de um guerreiro versátil e de vanguarda. A coleção de músicas de um dos mais produtivos compositores da terra foge ao rótulo conceitual. Parte do regionalismo e alcança o patamar cosmopolita de letras e ritmos universais.
Amanhã Júlio Lima apresenta a pré-estreia do novo Cd Há Sempre Música, no Bar Lá Na Carioca (Cidade Alta). A partir das 13h o músico recebe os amigos para um pocket show informal. O Cd produzido de forma independente traz músicas já conhecidas do público como Coagulado, Canudos (inspirado no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha) e a canção-título, 2º lugar no MPBeco 2009 – festival de música em que Júlio venceu como melhor intérprete.
O show de lançamento do Cd está marcado para 13 de novembro no Largo Dom Bosco, em frente ao Teatro Alberto Maranhão, na Ribeira. A abertura ficará por conta do grupo de teatro Arrelia. Participam ainda Ângela Castro e Tiquinha, do grupo Rosa de Pedra; o guitarrista Fidja e a energia do grupo Pau e Lata, responsável pela performance antológica na Casa da Ribeira em 2008 na música Enlatado, também presente no Cd cujas primeiras 180 cópias já foram vendidas.
Não causa estranhamento a produção de outras 500 cópias do Cd Há Sempre Música. Júlio Lima construiu uma carreira sólida na música potiguar. Integrou bandas lendárias como Alcatéia Maldita e liderou o movimento musical MPSol. Para retratar melhor a versatilidade como musicista e compositor, basta lembrar a participação nas bandas The Skareggae, Velvet Blues e Delta 9, e no período como contrabaixista na Orquestra Jovem de Natal.
Apesar das visitações aos campos floridos da música, é no rock onde o músico está mais afinado. A voz rouca, grave e visceral é encaixe perfeito ao som distorcido da guitarra. A influência musical foi iniciada pelo pai, o baixista e membro fundador da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte e ainda cantor de uma das grandes instituições musicais do Estado, o Coral Canto do Povo. O nome dele é Carlos Alberto de Lima, o Carlão.
Mesmo sob influências do canto regional ou da música erudita, o aprendizado musical de Júlio Lima não o distanciou do gênero endeusado por nove a cada dez normais. O virtuosismo na execução da guitarra ou do contrabaixo aliado aos dons vocais naturais projetam Júlio ao rock. Não houve escapatória. Naquele início da década de 80 era essa a pedida dos jovens com algo a dizer, a mostrar e protestar.
A música que abre o novo Cd mostra que Júlio Lima não perdeu a pegada iniciada naqueles anos de consumo. Em O Muro, ele canta com a mesma força presente na canção: “Caldo de cana/ Menina bacana/ O sol na pestana/ Mais uma semana na vida// Surfo nos problemas com os meus dilemas/ Quero ter consciência/ Pra poder evoluir// Mantenho a fé/ Que é o que me ergue/ Quando inevitavelmente arrebento/ com a minha cara no muro”.
Essa é a atmosfera da música de Júlio Lima: cargas sentimentais carregadas, temáticas universais, frases cortantes e esperanças desencorajadas retratando com alguma fidelidade o cinza nebuloso dos tempos atuais. Há também toques de comicidade, como no samba Pária ou na sátira Sauron Dançou. A mostra mais fiel de Júlio Lima e metáfora de sua trajetória é a reconhecida Há Sempre Música, onde “há sempre timbres colorindo o espaço sonoro de um pensamento”.
Júlio Lima – Cd Há Sempre MúsicaOnde: Bar Lá na Carioca (Rua Gonçalves Ledo, Cidade Alta, próximo à Cosern)
Data e Hora: Amanhã, às 13h
Sérgio, uma correção: Arrelia é um grupo musical e não teatral.
ResponderExcluirValeu!