terça-feira, 24 de novembro de 2009

Entrevista - Mauro Mendonça


O ator Mauro Mendonça parece o oposto de seu maior personagem: o metódico e pacato Theodoro, o corno do clássico Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). Desceu do quarto onde está hospedado em hotel cinco estrelas na Via Costeira de Natal em estilo bonachão: bermuda amarela florida, camisa de manga comprida listrada em tons escuros, sandália de rabicho e querendo tomar café da manhã após o horário.
Mauro Mendonça está em Natal a convite do 19º Festival de Cinema de Natal (FestNatal). Será homenageado com o Prêmio Tributo, pelo conjunto da obra. São mais de 50 anos dedicados à profissão. Muito mais uma carreira voltada ao teatro e à televisão do que propriamente ao cinema. Aliás, a sétima arte parece seara pouco conhecida ao ator, partícipe de filmes como Rio, 40 Graus (1955) e Amor, Estranho Amor (o filme censurado da Xuxa, de 1982).
Enquanto degustava, de frente para o mar natalense, o exigido mamão com mel, o ator – personagem de mais de 50 trabalhos em novela – conversou com a reportagem na manhã de ontem.

Mais de 50 anos de carreira. Gostaria de ser lembrado como ator de TV, cinema ou teatro?
Apenas como ator. Em cada filme, peça ou novela vai estar a presença do ator. E espero que você escreva “ator” com letra maiúscula.

Theodoro foi seu grande personagem? Conte segredos de bastidores daquelas filmagens...
Foi, sim. Bom, lembro que (José) Wilker – o protagonista Vadinho – tomou todas num boteco de Salvador. Lá pras tantas, quando estava bêbado, saiu correndo atrás de subir numa lancha. Eu e o produtor, preocupados, corremos atrás dele. Resultado: ele não sofreu nada, mas eu fiquei com os pés cheios de ouriço. Foi preciso um pescador da região tirar com um alfinete esquentado no fogo. Outra foi um produtor novo que chegou lá querendo mudar tudo: o poste, o cenário... Mas você sabe: baiano é devagar. Demoraram tanto que ele foi embora deprimido. Depois até mudaram, mas atrasou tanto que o filme foi concluído no Rio de Janeiro.

Gostaria de ter feito mais cinema?
Fiz pontas no cinema. O primeiro papel de verdade foi em Rio, 40 Graus. Meu sonho sempre foi fazer cinema, mas era uma coisa descontinuada. E sempre fui pragmático quanto a isso. Acho muito pouco romântico passar fome em nome de um ideal. Então, fiz teste para o teatro, depois para tele-teatro e segui esse caminho. Também tive a oportunidade de atuar no cinema em Seara Vermelha, que gostei muito.

Seara Vermelho foi exibido durante o auge do Cinema Novo. Aquele foi o melhor período do cinema brasileiro?
Naquela época era cinema na mão, ideia na cabeça e muita bosta na tela. Os mais talentosos estavam no Cinema Novo, mas tinha muita porcaria, também. A retomada do cinema brasileiro, nos últimos anos, veio com muita gente boa. Hoje se faz cinema sério. O que eu assisti ontem – Tapete Vermelho – foi de impressionar. A Eva Vilma também elogiou o Elvis e Madona...

Quais seus destaques do cinema após a “retomada”?
(pensa). Que me vem à cabeça tem o Cidade de Deus.

E entre os diretores desta nova leva, quais o senhor admira?
Agora, você me pegou. Não sei...

Walter Salles?
Tem o Walter Salles, que fez um filme com a Fernanda, né? Como se chama mesmo?

Qual a contribuição o senhor acha que festivais como esses deixam à cidade?
Prestígio e incentivo ao cinema e ao artista. Natal fica ligada à cultura com festival importante como esse. Deve permanecer.

Já tinha ouvido falar do FestNatal?
Já, sim. Inclusive era doido pra ser convidado.

Quais suas metas profissionais?
Sou imediatista. No momento quero férias. Fiz duas novelas praticamente emendadas. Chega uma hora que a cabeça pede descanso, sem decoreba de textos; quer um marzinho, uma piscininha... Tenho um iatezinho em Angra dos Reis, pescar...

Então o convite veio em boa hora?
Nossa, foi um presente Fico muito grato.

* Matéria publicada nesta terça-feira no Diário de Natal, com uma correção: Escrevi Dona "Beija" e Seus Dois Maridos. Desculpem pelo erro. Passou em branco pelo repórter e pelo editor.

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