Depois de publicar Rumores de azul (2001), Mar espesso (2003), A duna intacta (2006), a poetisa Maria Dolores Wanderley brinda o leitor com Fragmentos de Maria. Segundo ela, o título é um enigma onde convida o leitor a decifrar, pois a Maria, cujos fragmentos são revelados, pode ser qualquer Maria. “Pode ser minha mãe, a quem eu dedico o livro; eu também me chamo Maria. Ele é composto pelos subtítulos: Maria, A Cidade, A Menina, O Chão, O Pensamento. A cidade que falo no livro é o Rio de Janeiro, onde vivo há um tempão; o Chão são as referências da poeta, ou seja, o que a prende, o que impede a total invenção. O Pensamento é a surpresa das Marias”, explica.
A escritora revela que quando escreve poesia tenta ficar totalmente solta e livre para se expressar. Gosta quando apreciam a estética, a construção, a colocação das palavras. Apesar de morar no Rio de Janeiro há muitos anos, muito da sua inspiração vem da capital potiguar, sua terra natal. “Já fiz poemas de amor (Mar Espesso), sobre minha terra Natal (A Duna Intacta) e esses Fragmentos de Maria, além de outros temas. Leio os poetas clássicos: Drummond, Manoel Bandeira, como exemplos; e poetas contemporâneos como Paulo Henriques Britto, Alexei Bueno, Carlito Azevedo, também como exemplos”, complementa.
Fragmentos de Maria se difere um pouco das obras anteriores da escritora por ser constituído de grupos de poemas (fragmentos) multi-temáticos, e segundo ela por estar realmente mais solta, mais livre. “O que geralmente me desperta para escrever é a necessidade de colocar em palavras certos sentimentos e percepções que só se tornam claros na escrita. A construção do poema requer idas ao dicionário e muito papel rasgado”, finaliza.
Onde os relógios são nuvens
e os minutos esticam-se
- interminável carretel -
Para incluir um café
outra conversa,
no meio do dia
Onde os relógios se movem a sol
e nos regulam
como bromélias, heras
jequitibás
ipês
espalhados pelos muros
paralelepípedos
asfalto
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