quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Marcílio Amorim pronto pra aprontar

Por Marcílio Amorim

No último domingo (03/01/10) cheguei por volta das 21h30, na boate Míxer, anexo do Pagode do Feitiço, para uma noite de discotecagem como DJ Marcy, uma das minhas facetas de trabalho preferidas. Cheguei prontíssimo para mais umas horinhas de agito, com a energia renovada de 2010. Tinha passado a tarde do domingo dormindo, estava relaxado e descansado, e a única coisa que me incomodava era um suor frio e uma agonia no peito, daquelas de quem espera uma notícia ruim, sabe?!

Achei por bem tomar uma coca-cola bem gelada (mania herdada da minha mãe), achando que um belo arroto pós-refri seria a solução de todos os meus problemas. Até que a agonia passou, a ponto do DJ Marcy arrasar em um set bombástico, pra lá de animado, com um público especialmente feliz que se jogava na pista e dançava loucamente, da maneira que todo DJ espera encontrar pela frente.

Saí das pick-ups um tanto exausto e com uma vontade louca de ir pra casa, afinal de contas já era segunda-feira, dia de branco e Jota Oliveira (meu patrão formal de outra faceta de trabalho) odeia atrasos.

Cheguei em casa com uma dor cansada no braço esquerdo (como quem fez academia durante duzentas horas com um braço só!) e uma fina dor no peito. Tomei um banho para relaxar e tentar diminuir o incômodo e logo me caiu a ficha: pode ser um infarto! Pensei.

Passei a noite toda sem conseguir dormir com as fortes dores e com receio de acordar a minha mãe no meio da noite, em busca de socorro. Esperei amanhecer e disse a Mama: "Vamos pro hospital que estou tendo um infarto!".

Quando vi, estava na sala de reanimação do pronto-socorro do meu bairro, com oito pessoas ao meu redor, agindo rápido, me fazendo perguntas, medição de temperatura, pressão arterial... Me toquei que a coisa realmente poderia ser grave, mas mantive a calma e estava bem mais tranquilo do que a minha Mãe e a minha Tia Adalgisa que me acompanhavam.

Fui transferido de ambulância para outro hospital (com direito a sirene ligada e a monitoramento cardíaco, com aquele piâ constante que tem o som da morte), depois para outro e logo estava na UTI do Natal Hospital Center, com o diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio e pico de pressão arterial (18 por 12).

Ainda assim não estava assustado e queria fazer tudo caminhando sozinho e independente, carregando meu próprio soro, fazendo ligações ao celular e tentando entender os próximos passos.

Minhas únicas preocupações reais eram fazer uma ligação para Jota (que ia pensar ser um desculpa minha para não ir trabalhar...), acalmar a minha mãe para que eu não precisasse socorrer ela no meio daquela situação e a possibilidade de perder o show de Beyoncé em Sampa, marcado para 06 de fevereiro (estou com ingresso da área VIP comprado e passagem aérea emitida. Quando ela balançar o cabelo, vai bater no meu nariz!).

Ao todo, foram uns trinta litros de soro, incontáveis picadas de injeção, infinitas coletas de sangue, comprimidos e mais comprimidos, um cateterismo com anestesia local e uma angioplastia na veia coronária (principal artéria do coração) muito bem sucedida. A doutora me falou que só não parti dessa para melhor porque Deus não quis mesmo. Muita gente com menos danos no coração do que eu, já não está mais aqui para contar a história. Tive sorte!

Junto a toda esta agonia fiz um check-up geral, que há muito minha ojeriza a hospital me impedia de fazer. Entre outras, tive a confirmação de que não sou diabético (minha taxa está por volta de 80 e a média da normalidade é entre 70 e 140), o HIV deu negativo (usem camisinha!) e estou com uma pecinha fixada no coração que custa muitos reais (!!!!!!!!). Já dei um Google pra ver se dá pra tirar esse troço do peito e trocar pela minha tão sonhada viagem para Nova York (brincadeirinha).

Aproveito esta explicação pública para agradecer todo o empenho, carinho, assistência, amparo, preocupação e competência de toda a equipe da UTI do Natal Hospital Center, que cuidaram de mim com a dignidade do bebezão mimado que sou. Sem falar na agilidade dos dois outros hospitais por onde passei (Pronto-socorro da Cidade Satélite e o Clóvis Sarinho, que entre crises e reclamações de caos na saúde pública, me prestaram um atendimento exemplar, excepcional e eficaz a tempo para que tudo desse certo!).

Já está sendo elaborada uma lista de convidados, entre a equipe médica, auxiliares e enfermeiros, com direito a acompanhante, para irem dançar comigo, na minha volta às pick-ups de DJ, já marcada para o próximo dia 31 de janeiro, na Boate Míxer, onde sou DJ Residente. Na ocasião estarei lançando um CD com os hits do verão 2010. Será minha forma de dizer obrigado!

Para o ano novo que se inicia, além dos desafios formais programados, estão previstas novas batalhas: preciso eliminar o maldito cigarro da minha rotina, reduzir a carga de estresse+farra+trabalho, controlar a minha alimentação e fazer uma atividade física urgente, senão quiser passear de ambulância mais vezes e empacotar dessa para melhor de uma vez por todas.

De lição, percebi que vaso BOM também não quebra fácil.

A partir de agora posso comemorar o meu Reveillon particular na virada do dia 03/01 para o dia 04/01, data em que brinquei de bate-palminha com a morte, dei dois beijinhos em sua face e voltei ao convívio dos mortais. Tudo sem perder o rebolado que me é peculiar.

Antes da cirurgia, olhei para a doutora e fiz uma pergunta e um pedido: "Doutora, no dia 06 de fevereiro eu vou estar em São Paulo para ver o show da Beyonce?". "Claro que sim!", disse ela. "Outra coisa Doutora, na cirurgia dá pra retirar dessas artérias aqueles amores vadios, que não prestam pra nada e só nos causam dor no peito!?", solicitei. "Ah se eu tivesse esse poder.... Estaria feita na vida. Mas isso você consegue sozinho, é só por outro no lugar!", aconselhou. E olha que de coração, ela entende...

Beijos no coração de cada preocupado comigo. E são muitos! No coração pois, agora e por um bom tempo, este será o assunto das minhas rodas de conversa. Tô inteirinho, de coração novo, mas com o mesmo sorriso, decote e rebolado de sempre. A única coisa é que o gatinho aqui, a partir de hoje, só tem seis vidas restantes e está prontinho para a ladainha de puxões de orelhas que vêm pela frente!

Beyoncé ai vou eu! Vou ser a pessoa mais feliz do show no Morumbi! Se morrer... Morro feliz!

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