sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Entrevista - Khrystal

É porque esta esquina do continente é muito estranha"

Talvez falte uma Linda Baby para ela ser considerada a mais popular intérprete da música potiguar. Mas Khrystal tem outras metas para 2011. Após apresentação memorável no Auto de Natal ao lado de Roberta Sá, ela estará no Canal Brasil a convite do tarimbado crítico musical Tarik de Souza para homenagear Ademilde Fonseca, na primeira semana de janeiro. Será o início de um ano promissor à cantora que um dia dormiu nas ruas do Centro de Natal, neste ano esteve na Rede Globo de Televisão e no próximo pretende "amarrar" shows pelo Sul do país.

Uma autoavaliação de 2010?
Viajamos bastante. Tentei me desvencilhar do primeiro disco e trabalhar o próximo. Não consegui e alternamos os repertórios nos shows. Voltei a Maceió por quatro vezes. Finalizamos o DVD que será lançado assim que o carnaval baixar a crista. E estou sempre na pilha, sonhando com novos projetos, tentando o trânsito entre o Sul e a realidade local.

O Sul é a grande meta?
É, e tem que ter dinheiro, viu bicho? E eu não tenho. Mas tenho garra, e um produtor idem. Então, é paciência. Acredito nesse ritmo de trabalho.

2011 começa com convite de Tarik de Souza. E as expectativas para 2011?
Conhecemos o Tarik e ele ficou amigo nosso. O programa será gravado no Rio. Será uma janela linda. Nem sei a formação que vou levar ainda. E estou me achando em cantar nossa diva Ademilde Fonseca. Vou aproveitar esse convite para amarrar alguns shows no Rio. Depois do carnaval quero fazer mais shows no Sul do que em Natal.

No aniversário da cidade você fez show elogiado junto com Roberta Sá e rendeu polêmica. O que você quis dizer com aquela declaração no fim do show?
Toda vida que faço show com Roberta gera essa deselegância. O produtor dela é João Mário Linhares, uma pessoa linda e tudo. Mas ele mandou o filho dele cuidar de Roberta, um bossal. Geralmente são assim: tratam o artista daqui fazendo bico. E a programação atrasou muito. O Macaxeira Jazz fez um show de apenas 30 minutos. Foi horrível. Como nunca lotei show em Natal em 12 anos de carreira - em outros Estados geralmente loto - era importante essa apresentação pra mim. Tinha um público de mais de 20 mil pessoas e boa parte nunca ouviu o nome de Khrystal. E esse produtor começou a chiar, pedindo pra eu não me estender no show. Aí começou o bate-boca dele com Zé Dias (produtor de Khrystal). Não sei nem se Roberta (Sá) sabe disso. Ela é de uma delicadeza incrível; dessas ricas que não se fazem de ricas, sabe? É como Marina Elali, também maravilhosa. Cara, era eu cantando no palco e olhando pro lado. Fiquei puta. Fechei o show, abri meu papel de recado e fui agradecer à prefeita Micarla porque foi ela quem me levou pra lá. Sou apartidária, não me envolvo com política. Foi um agradecimento a quem me deu a maior força. E a galera deu uma vaia monstruosa. Fiquei até com pena. E ficou aquele mal estar, como se eu tivesse provocado. Num tenho nem cacife pra isso. Sou amiga pessoal de Micarla. Quando terminou o show, ela foi ao meu camarim cantando Zona Norte Zona Sul - uma música que fala de preconceito e que foi a última que eu cantei e que levantou a galera. Ela me entregou um buquê de flores e tudo. Então, não houve nada de provocação.

Quais seus destaques na música potiguar em 2010?
São dois veteranos que pouca gente conhece: Luiz Gadelha e Simona Talma. Compositor aqui tem muito, mas desses casseteiros mesmo, só aqui e acolá. E eles estão na linha de frente. Eles têm um trabalho que eu chamo de Lado Z: falam das dores do cotidiano, com blues, jazz, batidas eletrônicas... Eles venceram o Prêmio Hangar (Simona, melhor intérprete, e Gadelha, melhor compositor) este ano. Na premiação, Simona subiu no palco e disse que não merecia. Eu perguntei o porquê e ela me disse que era porque não tinha carreira, que toca por 400 reais para dividir com a banda. Cara, Simona é quem mais canta nesse elefante. É porque esta esquina do continente é estranha.

E o que é ter sucesso nessa terra estranha chamada Natal? Falta uma Linda Baby para você?
Nem sonhava em cantar e Pedrinho (Mendes) já dava entrevista (pausa). Não sei se sei responder. Sucesso, no latim, quer dizer Realizado. Então, é fazer, botar no mundo. Sucesso comercial é outra história. Em 2007 não ganhei um tostão furado e foi o ano que mais trabalhei na vida. O sucesso do realizar é mais palpável. Fama? Não sei o que diabo é isso.

Faz questão de saber?
Não. O chumbo é grosso. Quando acaba o show o povo pensa que deitamos numa banheira, mas eu volto pra lavar louça. É a vida de todo mundo. A diferença é que você tem dinheiro certo no fim do mês.

* Publicado ontem no Diário de Natal

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