quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

E começa o Baixo de Natal...

E hoje começa o Baixo de Natal. O enigmático subtítulo sugere: "A arte depende de mim". De mim, quem? Fui atingido pelo movimento articulado nas independências dos departamentos de cultura da cidade. Talvez o "depende de mim" seja um genérico mais criativo do aforismo "faça a sua parte", no intuito de atingir o todo.

Fiz minha parte. Noticiei e fui metralhado por uma iniciativa apartidária, sem hierarquias e emanada da revolta contra o cenário desolador vivenciado pelos artistas. Características de uma contracultura apagada na cidade alienada. Por outro lado, o movimento contesta sem querer contestar; revoluciona sem a pecha de movimento revolucionário.

Não é movimento contracultural. Nem quer ser. Os mais de 40 envolvidos querem comida, diversão e arte. Por enquanto. Dinheiro é bem vindo, agora ou depois. Público ou privado. Desde que as características do movimento (não do projeto municipal) e a horizontalidade gerencial na organização sejam mantidas.

Ademais, gostaria de lembrar de um único movimento na história do mundo cuja essência foi mantida. Nem São Francisco conseguiu. Quando seus franciscanos viraram legião de seguidores, a hierarquização foi necessária, mesmo contra seus votos anárquicos, baseados em um evangelho também anarquista. Mas é bom lembrar: a vinculação do anarquismo com a contracultura é válida, mas não é regra.

Nem a própria contracultura (embora não a caracterize como "movimento") se manteve firme. O rock mudou. Os hippies... Onde estão os hippies? E o LSD? Hoje é extase consumido por playboys em festas rave. E Dylan hoje escreve sobre o quê? Hoje não é mais proibido proibir - não com aquela ideologia. Qual a juventude que iria ao Woodstock do século 21? O Maio de 68 se articularia de que forma? Com panfletos ou pela rede social e com o poder da mídia?

Onde estão os substitutos de Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Arnaldo Baptista, da nossa Alcateia Maldita, de Blecaute? Ainda temos velhos remanescentes dos bons tempos da contracultura natalense. João da Rua lançou livro há poucos dias. Mas quem são os novos? Onde estão os protestos, os movimentos protagonizados por eles? Ainda se vê mais comunistas arraigados do que manifestantes dos guetos da contracultura.

A Galeria do Povo, que na década de 70 chacoalhou o movimento artístico de Natal na Fortaleza dos Reis Magos, hoje, é o Baixo de Natal. Cada qual em seu contexto, suas características e ecos. Falo da iniciativa, do nascedouro da criação do movimento. São semelhantes. São válidos. E que o Baixo renda frutos, amplificações. E com grana tudo fica mais fácil. Negar isso é hipocrisia.

E cá pra nós, o que a contracultura produziu de concreto para o avanço da arte sem o suporte da cultura de massa? Nada. E por quê? Pelo preconceito besta de que multidões representam, necessariamente, alienação, algo negativo. E aí mora um grande mito que nunca deixou a contracultura avançar para além dos guetos, como forma até egoísta de promoção artística. Edward Thompson explica algo sobre isso. Aliás, muito além das ideias de Foucault.

E hoje, lá vou pra The Baixo de Natal!

8 comentários:

  1. Belíssimo texto, Serginho. Torço muito pra que esse bafafá dê realmente o que falar (de bom). Mas cá pra nós, vc realmente acredita em horizontalidade gerencial e não hierarquia nesse processo? Eu tenho minhas dúvidas. Conheço as cabeças que estão a frente de outros carnavais... Mas, sinceramente, torço pra quebrar a cara (a minha).

    Abração.

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  2. O problema, Vilar, é que sempre haverá pessoas tentando minimizar pessoas/projetos/iniciativas. Em qualquer área. Na área cultural, nem preciso citar onde podemos encontrar "atitudes" que se dizem plurais sem ser, que se dizem imparciais sem ser, que se dizem democráticos sem ser... e o mais grave: que se dizem melhores, muitas vezes sem ser. Normal. Faz parte do ser-bicho chamado humano.

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  3. É verdade, Adriana. Seu texto merece crédito, desde que seja uma auto-crítica. Isso é como confissão: não se aplica a terceiros. Marcos Lima.

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  4. Ui... nos conhecemos?

    Mas, vc tem razão, em parte. Um dia não muito distante isso teria sido uma autocrítica. Hoje, minha preocupação é gastar meu tempo com coisas de futuro. Perdoe-me se sentiu-se ofendido com minhas vagas palavras para um vago comentário. Mas, que tem sentido, ahhh, isso tem. Pelo menos ao meu ver.

    =)

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  5. Não nos conhecemos. Alguém se conhce? Não me ofendi nem pretendi ofender ninguém mas você sim pareceu ofendida pelo menos ao seu ver...Marcos Lima.

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  6. Essa é uma discussão tão importante quanto os eventos elencados. Num é nada num é nada, num é nada!... baixo só o Leblon, alto só de birita. ô gentinha desocupada! Até eu...qui não é da minha conta. Rita Morango.

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  7. Marcos, você parece ser do tipo que adora fazer ofensas gratuitas. Eu fiz foi rir muito da sua retruca ao meu 1º comentário. E agora ao 2º. Sai dessa... tente ser feliz!

    Um abraço... e nem se preocupe. Não darei mais atenção a você por aqui, tá?
    =)

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