sábado, 25 de dezembro de 2010

Rio Grande napolitano


Se Charles Azvanour, Edith Piaf e outros franceses clássicos embalaram a trilha sonora de 2010 no ano da França no Brasil, a audição de 2011 estará voltada à cultura italiana. Pepino di Capri, Laura Pausini, Eros Ramazzotti e outros mais serão a pedida do ano, capisce? O que poucos sabem é da relação íntima entre os napolitanos e os potiguares. Não só de costumes e até idiomas semelhantes. A história mostra a presença de italianos ilustres e fatos marcantes para ambos acontecidos em terras potiguares. Desde a primeira travessia sem escalas de uma aeronave da Europa ao Brasil ao planejamento urbano de Natal pelas mãos de dois italianos. E tem mais...

Os livros de história do Brasil omitem alguns fatos importantes do período colonial brasileiro. Quando da invasão holandesa, na primeira metade do século 17, a colônia portuguesa, em conjunto com a espanhola, pediu ajuda militar a diversos países europeus para expulsarem os "invasores". Apenas o exército napolitano respondeu. E enviaram quatro naus napolitanas comandadas pelo Sargento-Mor Vincenzo San Felice e compostas por 850 homens de tropa e mais ou menos 50 oficiais. A maioria, veteranos de guerras combatidas no velho Continente. E surge a pergunta: qual teria sido o futuro do Brasil se permanecesse sob domínio holandês?

Na província de Cascudo, muito além das massas e pizzas, a cultura italiana está entranhada nas esquinas da cidade. Já nos primeiros anos do século 20, o napolitano urbanista Antônio Polidrelli organizava a primeira sistematização de cidade para Natal. Três décadas depois, outro italiano, Giácomo Palumbo também faria novo plano urbanístico à cidade. Também na ainda atrasada Natal das primeiras décadas do século passado quando a moda viver a Belle Époque francesa, morava aqui um dos maiores violencelistas do mundo, o italiano Thomaz Babini, que iniciou importante tradição da música instrumental na capital potiguar.

O napolitano Paolo Fiore é estudioso do assunto. Mora em Natal há quatro anos. É um "apaixonado" pela cultura napolitana e nordestina, onde vê semelhanças históricas e culturais. Por aqui, Paolo canta em hoteis de Ponta Negra em show onde mistura a bossa nova brasileira e os clássicos da música italiana, ou a mescla de ambos, em novos arranjos e recriações. O cantor também preside o Centro de Cultura Italiana de Natal e já organiza a programação de 2011. Segundo ele, um protocolo de intenções entre os governos dos estados do Rio Grande do Norte e Nápoles foi assinado com o objetivo de intercâmbio entre as duas delegações para 2011, com viagens agendadas para abril (italianos em Natal) e junho (potiguares em Nápoles).

Paolo guarda uma série de documentos relativos à presença italiana no Brasil. E lembra de outro fato marcante na história de ambos os países. Foi a primeira viagem sem escalas da Europa ao Brasil, em 1920. "Um hidroavião fabricado pela Savoid Marchetti e pilotado pelo general italiano Italo Balbo, partiu da Itália para Natal. A Coluna Capitolina, fincada na Ribeira, foi presente de Mussolini em homenagem à cidade que recebeu esse voo histórico", conta. O fato está relatado no livro Legiões aladas sobre o mar, editado no Brasil pelo Jornal do Brasil, em 1932, e escrito pelo próprio Italo Balbo.

Itália no Brasil
O protocolo de intenções assinado pelos governos potiguar e napolitano também tem a intenção de "geminação". E o que seria? A geminação entre dois estados é quando eles têm algo em comum: folclore, cozinha, ambiente, artesanato, artes e turismo. Em uma palavra: cultura. E a geminação oferece a oportunidade de aprender mais sobre a vida quotidiana dos cidadãos de outros países, para se comunicar com eles, trocar experiências, conhecimentos e desenvolver projetos sobre questões de interesse comum, tais como a integração local, o ambiente e, claro, o desenvolvimento econômico.

Paolo Fiore já organiza o intercâmbio entre músicos. Em abril, ele levará a banda que o acompanha nos shows, a Brasil Bossa Band, para uma série de shows na Itália. Nas apresentações de Paolo no Hotel Esmeralda (às terças-feiras) e Beach Resort (às quintas-feiras) - ambos em Ponta Negra - ele intepreta "músicas italianas com cheiro brasileiro e vice-versa". E conta peculiaridades de cada música - clássicos imortalizados do cancioneiro romântico mundial: Strani Amore, La Solitudine, Roberta, Champagne e outras.

O intérprete procura explicação na paixão pelas duas culturas: "Foi talvez o talento de Amerigo Vespucci, que chegou ao largo da costa do Brasil em 1499, um ano antes da descoberta oficial de Cabral, ou até mesmo o sangue derramado pelos napolitanos em 1625 no combate contra os holandeses, ou mais provavelmente, a tenacidade dos 8 milhões de emigrantes italianos que trabalharam duro contribuindo para a modernização do Brasil. E ainda mais é a afinidade entre Natal e Napoli. Ambas cidades litorâneas habitadas por povos navegadores e mundialmente conhecidas como "cidade do sol", ambas com tradições folclóricas perdidas nos labirintos do tempo, ambos com tradição alimentar e similares culinárias", conclui.

Serviço
Paolo Fiore
(84) 9919-5842
info@paolofiore.com

* Publicado no Diário de Natal de hoje

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