sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal desgovernado

Às vésperas do aniversário da cidade e do último show do Auto de Natal, o presidente da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), Rodrigues Neto comemora antecipadamente o resultado de público e organização do evento, patrocinado quase na totalidade por investimentos privados e sem a parceria com o governo do estado, visto no anterior. "Sequer no réveillon eles quiseram colaborar", lamentou.

Rodrigues Neto deixa claro que o lamento não é crítica. "Estão no fim do governo e precisam pagar suas contas". Fato é que sequer o auto natalino tradicional dos últimos onze anos foi organizado. O ensaio para o fim foi visto já no ano passado, quando após ensaios e montagem do espetáculo, o governo cancelou o pagamento dos artistas e o auto. Só com protesto dos envolvidos na frente da Governadoria o evento foi retomado.

"Procuramos a Emproturn e o Gabinete Civil. A resposta foi a mesma: de que estão sem dinheiro, pagando contas. Pedimos apoio pelo menos para o réveillon (patrocinado pelo Ministério do Turismo), mas nem isso". A reportagem procurou respostas da Fundação José Augusto. Mas os telefones foram cortados por falta de pagamento e os celulares da assessoria de imprensa e do diretor geral estão desligados desde a última quarta-feira.

A perda da parceria foi amenizada pelos patrocínios privados, responsáveis por 80% dos custos do Natal em Natal, que giram próximos dos R$ 6 milhões (incluindo a iluminação, que custou R$ 3,27 milhões). "É mais ou menos isso. Alguns investimentos foram captados via Lei Rouanet (lei de incentivo cultural federal) e outros foram diretos", explicita Rodrigues Neto.

Segundo o presidente da Funcarte, a programação de quatro dias do Auto de Natal, culminando com o show de amanhã para comemorar o aniversário da cidade, custou R$ 1,2 milhão. Para o desfile temático criado em 2009 ao lado da Praça Pedro Velho (Praça Cívica) foram investidos R$ 500 mil. As duas árvores de natal montadas em Mirassol e Panatis, R$ 100 mil. Os demais custos foram com cachê de bandas e artistas.

"Fomos mais profissionais este ano. Corrigimos falhas do ano passado e oferecemos uma programação mais estruturada, proveitosa e mais barata", comentou Rodrigues Neto. Uma das falhas apontadas foi a divisão da programação do Auto no anfiteatro da UFRN e o aniversário da cidade no Machadão, com o fatídico show do padre Fábio de Melo. "Esse ano aproveitamos a mesma estrutura de palco e matamos dois coelhos numa cajadada só".

A frustração desse ano ficou por conta da homenagem não acontecida à cantora Glorinha Oliveira. A ideia, segundo o presidente da Funcarte, era promover o encontro de gerações entre Glorinha e Roberta Sá, no show de amanhã no Machadão. "Por recomendação médica, Glorinha foi impedida de participar. Ela está muito cansada. É uma pena. Nós queríamos prestar essa homenagem", lamentou.

Outro lamento foi a não captação dos recursos para a promoção do projeto Fábrica de Natal. "Conseguimos aprovação na Lei Rouanet, mas não encontramos empresas para patrocinar os R$ 800 mil previstos. Vamos começar já a redimensionar o projeto e tentar novamente porque a lei ainda vale para 2011".

Rodrigues Neto ressaltou ainda a diversidade da programação dos shows do projeto Cantos de Natal (esse ano duplicado, também com apresentações na área de lazer do Panatis, na Zona Norte) e do Auto de Natal. "A ideia eram shows para a família natalense, menos comercial, de qualidade e que respeitasse o clima natalino e a proposta do Auto de Natal, finalizando com uma atração mais descolada para o aniversário da cidade", disse.

E após apresentação do padre Antônio Maria, do "ícone da música regional" Fagner, e da cantora gospel Aline Barros, a "descolada" Roberta Sá sobe ao palco montado no Machadão para comemorar o aniversário da cidade e uma possível despedida do Estádio, passivo de demolição para montagem da estrutura da Copa de 2014. Abrem o show amanhã a partir das 19h, a banda Macaxeira Jazz e a cantora e compositora Khrystal.

No domingo é a vez do cantor de música sertaneja Daniel fazer show no palco extra, maior, montado na área de lazer do Panatis. "Esse show é patrocínio exclusivo de empresas, via lei - e por isso será gratuito - e também com parcela de recursos diretos", disse Rodrigues. "A ideia de um show no sábado e outro domingo foi não dividir o público. Então, esperamos todos nos shows", conclui.

* Publicado hoje no Diário de Natal

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