quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Palumbo 11

E a Palumbo 11 chega às bancas. É a primeira edição de 2011, comemorativa aos 50 anos da contracultura. A revista trouxe esse universo underground à realidade local, à Fortaleza dos Reis Magos onde emanou um movimento cujo lema era a liberdade pela arte. Tudo retratado na matéria de Filipe Mamede. No editorial, comento o assunto:

O yeah, yeah, yeah cantava o amor quando o Brasil ficou submerso na ditadura e na esperança de Geraldo Vandré: nas “flores vencendo canhões”. E meio século se passou. Foi em janeiro de 1961 quando Robert Allen Zimmerman bradou seus primeiros versos folks já com a alcunha de Bob Dylan. Dois anos depois estouraria com o hit Blowin’in the Wind e o refrão “A resposta, amigo, está soprando ao vento”. E hoje olhamos o passado, miramos o futuro sem respostas. Um grupo de idealistas natalenses subiu a ladeira das periferias e fincaram na Fortaleza dos Reis Magos muitas perguntas, protestos e artes. A contracultura em Natal foi a favor de todos. A poesia underground e o poema processo perfumavam submundos. E ninguém desejou respostas. Queriam – viveram – liberdade. Mesmo na ponta da maconha, no pincel das telas ou nas letras das faixas clamadas pela democracia.

O jornalista Mário Ivo traz constroi uma radiografia do natalense a partir de outras tantas referências, em artigo primoroso, intitulado Apocalípticos e integrados na Londres Nordestina. São, como diz, apontamentos dispersos para uma breve história do desbunde potyguar:

Entre idas e vindas, porralouquice e caretice, tudo indica que o apogeu e glória da Londres Nordestina se deu pelos idos de 1973, ano em que a revista Veja publica uma matéria onde se lia: “a ‘ripongada brava’ anuncia que vai tentar a praia dos Artistas, em Natal, onde já funciona uma sucursal provinciana do ‘desbunde’.” E Sebastião Carvalho publicava matéria no número 6 dos Cadernos do Rio Grande do Norte intitulada “Praia dos Artistas as grutas do barato”, numa referência explícita às Dunas do Barato cariocas.

Michelle Ferret poetiza ainda mais Iracema Macedo. E inicia o perfil com a poeta dessa maneira:

Ela enfrenta furacões com seus vestidos claros. Revira as perspectivas, acende as luzes de dentro e faz chover nos sertões dos homens. “Sacerdotisa de Tupã/ abençoa tudo com licor/ Lábios de mel para esse mundo às vezes sem cores e tão cru”. Ela usa esmalte cor de céu pra escrever.

Em seis páginas de entrevista, o advogado e boêmio João Leite comenta tempos de advocacia durante a ditadura, a cena boêmia em Natal na época de Maria Boa e causos da política potiguar:

Me considero um democrata. Tenho horror do sistema, tanto do pessoal de direita quanto de esquerda. Tanto que tomei posição perigosa no Tribunal. O Ato Institucional, só votou contra eu e Túlio Bezerra.

Hugo Morais resgata o gosto saudosista pelo vinil e a moda das confrarias para curtir o velho bolachão. Na verdade, a volta do que nunca foi, de fato:

O vinil voltou? Não há volta, porque ele nunca se foi. A mídia vinil da forma como conhecemos existe há 60 anos. A evolução tecnológica provocou uma queda brusca nas vendas com a chegada do CD (Compact Disc) para substituir o LP (Long Play). Mas a substituição nunca existiu completamente. Surgiram sim, nichos de idolatria aos bolachões.

A crônica de Jairo Lima foi o melhor texto que li este ano. Pedi ao poeta tão somente um olhar diferenciado para descrever o Mercado de Petrópolis. E ele me entregou duas laudas de uma triste poesia do submundo que existe ali:

Eu era vidrado nos papudinhos. Eram uns cinco – coitados, quase todos morreram no mesmo ano; como todo bêbado, seres solenes e territorialistas. Bebuns de outras plagas eram expulsos sem compaixão, preservando severamente de alienígena contaminação a sua trêmula e zelosa confraria.

Luana Ferreira escreve matéria curiosa sobre a comunidade islâmica (um dos fundadores é o jornalista Carlos Peixoto) presente em Natal: seus hábitos, reuniões e curiosidades:

Outra diferença em relação ao catolicismo é a ausência de hierarquia: não existe papa para dizer o que é certo e errado, e as interpretações do Alcorão, feita por sheiks (estudiosos) e praticantes, podem gerar linhas diversas dentro da religião.

E ainda as 10 Perguntas à jornalista e editora de cultura da Tribuna do Norte, Cínthia Lopes; as 5 Histórias Desse Negócio de Ser... Produtor Cultural, com Anderson Foca; artigos dos jornalistas Laurence Bittencourt "O Universo Não é Estático", e Jomar Morais "É Simples, Mas..."; e as colunas de Vicente Vitoriano (artes) e Sávio Hackradt (política); o Menu de livros, com destaque para o Dramática Gramática, de Carlos Gurgel, e a dica de livro com o diretor de teatro Henrique Fontes; e os quadrinhos e charge de Brito - impagável! Além das fotos sensacionais de Ramón Marinho.

Espero que gostem da edição. Críticas, elogios e sugestões podem enviar pelo correio deste blog. Vida longa à Palumbo, também!

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