sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Entrevista - Lulu Santos

Natal recebe o último romântico

Lulu Santos é o maior ídolo da música pop do século 20 no Brasil; ou um dos maiores hitmarkers. Colecionou sucessos como o filatelista coleciona selos. Formato acústico, arranjos sambistas, batidas techno, dance ou ritmo de Bossa Nova, seja como for, o pop esteve grudado no violão de Lulu Santos. O som da guitarra fender de efeitos mais limpos e poucas vezes distorcidos confirmam sua natureza pop. O último álbum, Lulu Acústico MTV (Volume 2), talvez seja jogada comercial em tempos nebulosos à indústria fonográfica. A primeira edição do Acústico lançada em 2000 foi dos mais vendidos em três décadas de carreira. Afora a inédita E tudo mais, o astro pop mergulha amanhã em show no Teatro Riachuelo, na redescoberta de antigas composições, além dos hits "das antigas".

Se no penúltimo álbum, Singular (2009) o intérprete de voz grave esteve próximo do samba, ou de um popsambalanço, e nos discos anteriores flertou com a música eletrônica e efeitos mais modernos com os sintetizadores, Lulu Santos retoma o formato acústico em CD de comemoração aos 20 anos da MTV. A turnê do novo álbum estreou em agosto passado, com a mesma banda responsável pela gravação do DVD. Aos 58 anos, o carioca Lulu Santos acompanhou a evolução da música e manteve o estilo. Aos 20 anos integrava a banda Vimana, com Lobão e Ritchie - uma mescla do puro rock e o pop romântico. Lulu pinçou um pouco de cada referência e construiu uma carreira solo, de certa forma, paralela ao estouro do rock nacional.

Enquanto Renato Russo cantava o som de uma juventude revoltada e política pós-Diretas Já, Lulu Santos (se) mostrava O último romântico, com a vida Tudo azul e sob Toda forma de amor. Firmou presença no Rock in Rio de 1985 e emplacou mais alguns hits agora mesclados a outros ritmos. A música eletrônica chega em parceria com o DJ Memê e o álbum Assim Caminha a Humanidade (1994). Foi na década de 90 quando a polêmica em torno da declaração de Lulu Santos de que a música sertaneja era a trilha do Governo Collor, ou a frase atribuída a ele e sempre negada de que a espingarda de dois canos foi feita para atingir as duplas sertanejas.

De lá pra cá, Lulu inseriu batidas mais dançantes nas músicas e se sustenta dos velhos hits, apesar da pegada moderna das novas composições. A entrevista a seguir foi feita por e-mail. As respostas seguem na íntegra, apenas com alterações da linguagem abreviada da internet ao mais coloquial do jornalismo impresso. A economia das palavras também vem acompanhada de ironias, sobretudo ao ex-companheiro de banda, Lobão. Tirem suas conclusões.

"A 'Esperança' é a última que dorme"

Elementos da música eletrônica são uma crescente em seus álbuns. É a evolução da música pop?
?!...bueno, justamente quando o projeto da vez é um Acústico, talvez nem tanto. Pelo menos no meu caso.

Sua carreira emergiu de uma cena efervescente do rock. Assistimos o estouro de bandas teens longe da pegada rocker dos anos 80. Como você classificaria o rock tocado hoje no Brasil?
Classificação não é meu forte, nem acho boa prática. Observe: as bandas de rock atuais fazem sentido para o mercado e o momento.

Lobão publicou recente autobiografia e envolve muita gente no livro. Você que foi companheiro de banda dele, qual o grande segredo de Lobão?
Parece que o grande segredo do Lobão é o louro que ele põe no refogado, quem conhece jura, eu não saberia dizer.

A imprensa nordestina sempre cobra explicações em razão de declarações suas ou falácias alimentadas pela imprensa contra duplas sertanejas e nordestinos. O que realmente houve?
Esta afirmativa é no mínimo exagerada, senão de todo falsa. Nada que de fato importe ou que já não tenha sido devidamente esquecido.

A letra de Tempos Modernos ainda é atual?
Quem pode dizer melhor é quem a usa, quem a canta em côro em todos os espetáculos que faço.

Décadas após a composição, você ainda vê um novo começo de era e aquela coisa toda da música?
A 'Esperança' é a última que dorme (Frase atribuída a um esgotado Arnaldo Jabor depois de uma longa noite tentando baby sit a filha de Marilia Pêra e Nelson Motta, amiguinha de infância de sua própria filha Carol).

* Publicado ontem no Diário de Natal

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