Forró da Lua e Forró em Debate homenageiam hoje o compositor Zé Dantas, parceiro de Luiz Gonzaga “Eu nunca mais vou ser triste. Desse tempo eu já passei. O verbo se não existe”, cantou Santanna, dos grandes herdeiros do forró tradicional nordestino. Conhecido como O Cantador, Santanna é convidado deste sábado do Forró da Lua e do Forró em Debate. Mas a letra da canção serve bem para outro convidado da noite – dedicada a um dos compositores mais importantes na música de raiz nordestina: Zé Dantas, parceiro musical de Luiz Gonzaga. É Zé Barros, cantador do forró autêntico, das coisas da terra. Cego da visão, a luz aparece na voz, na simplicidade de alguém pobre de dinheiro e rico de espírito e talento.
Zé Barros chegou em Natal aos 6 anos. “Filho de mãe solteira. Só a viagem de Campina Grande pra cá já foi barra”. Aos 13 anos já cantava em um salão chamado Forró da Coréia, em Bom Pastor. “Se cabiam cinco pessoas era muito. Mas tinha um palanquezinho onde só tocavam fera. Quando eu tava muito feliz cantando lá, minha mãe me chamava do terreiro: ‘Bora, menino!’. Eu ficava puto”. Para tocar o ritmo certo da vida, Zé Barros conseguiu emprego na antiga Mobrasa, onde hoje está localizado o Grande Moinho Potiguar, nas Rocas. Trabalhava de auxiliar de silo e descarga. Rotina pesada para um jovem de 20 e poucos.
As composições surgiram antes dos primeiros acordes de violão. Já aos 24 anos, foi um dos 20 selecionados no 1º Festival dos Compositores do RN, coordenado pelo radialista Luiz Cordeiro, da Rádio Poti. A música Toada Sertaneja era prenúncio da linha musical construída nos próximos anos. Entre os 25 e 26 anos, Zé Barros, hoje com 55 anos, sofre gradativa perda da visão. Um problema congênito chamado retinose pigmentar retirou as novas imagens mundanas e lhe entregou como amigo o violão. “Lembro que a vista já tava sumindo. Mal enxergava a posição do “Lá”. Mas aprendi. E passei a cantar serestas por aí”.
Hoje Zé Barros é compositor de sucesso. Tem dezenas de forrós, xotes e xaxados gravados por grandes intérpretes do gênero. Tem gravado os CDs Filho da Terra (produzido por Dorgival Dantas, que divide vocal na faixa Do pé da serra) e Pé na Estrada (produzido por Zé Hilton do Acordeon). As duas músicas atuais de trabalho são constantes nas FMs locais. “São Chorando por você e Fartura no paió. Você sabe o que é paió? Não? Rapaz, tu é nordestino? Paió pode ser munição, mas no Nordeste é aquele paredão de milho, que o povo vai empaiolando até ficar aquela riqueza. Quando se diz: ‘O paió de seu Manel ta é grande, é porque ele ta é rico”, brinca.
Essas e outras histórias se misturam hoje à homenagem ao compositor Zé Dantas, parceiro de Luiz Gonzaga. Será no Forró em Debate, que antecede o Forró da Lua, na Fazenda Bonfim. Zé Barros participa do debate e volta ao palco do Forró da Lua para cantar, acompanhado da banda composta pelo trio clássico de zabumba, triângulo e sanfona. Zé Barros volta ao Forró da Lua porque esteve, entre outras apresentações, no histórico show com presença de Dominguinhos e Elino Julião – foi a última aparição de mestre Elino nos palcos antes da morte em maio de 2006. “Vão ser duas horas de forró. Se você for vai ver que canto solto, com alegria. Nem parece que sou cego. Na verdade, às vezes até me esqueço disso”.
SantannaO maior influenciador do estilo musical de Santanna é o imortal Luiz Gonzaga. Em 1984, veio conhecer o Rei do Baião, de quem se tornou amigo particular, fazendo vários shows seus. Santanna nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará. Foi recebido pelas mãos firmes, calosas e carinhosas da parteira Maria Baião. Dizem, foi aí que se ouviu o seu primeiro aboio. Descende de família de artistas e teve, na sua infância, a influência do aboio do vaqueiro nordestino, do canto das lavadeiras, do canto das rezadeiras e, finalmente, do canto dos cantadores violeiros e emboladores.
Forró em Debate
Data e hora: hoje, às 19h
Quem: Santanna, Paulo Wanderley e Zé Barros
Forró da Lua
Data e hora: hoje, às 20h
Quem: Santanna, Zé Barros e Trio Moré
Onde: Lagoa do Bonfim
Vendas: Casa de Saúde Natal e no local
* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
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