quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Retrospectiva da cultura potiguar em 2010


A total falta de tempo é prejudicial ao jornalista, sobretudo ao de cultura. Ora, precisamos ler, assistir filmes e peças teatrais, visitar exposições e acompanhar de perto o movimento cultural, pelo menos, da cidade.

Mas a cidade se chama Natal, e ao contrário da Linda Baby de Pedrinho Mendes, aqui muita gente se dá mal. Jornalista, via de regra é assim.

Minha rotina hoje se divide em três atividades básicas, afora o blog. É o necessário à vida digna. Pelo menos a burguesa, com carro, casa, lazer básico, e filho com escola e plano de saúde particular. Na contramão vem o jornalismo oferecido ao leitor, lamentável.

Por essas explicações, entre outras mais cansativas ao leitor, adianto uma retrospectiva capenga da cultura promovida em Natal em 2010.

Fundação José Gugu
De início, faço as vezes de advogado do diabo: a Fundação José Augusto merece críticas mais amenas que as publicadas. Pense aí: você compra no cartão pré-datado onze presentes com entrega via sedex para distribuir no natal entre familiares sob a promessa de que seu patrão depositará seu salário no dia combinado. Nada de grana e os pacotes ficam presos no correio. De quem é a culpa?

O número onze foi o dos editais. Cinco ainda faltam serem pagos: teatro de rua, cinema, quadrinhos e folclore são os que lembro agora. Um edital de literatura chamado Oswaldo Lamartine deixou de ser publicado pelo descumprimento de repasse financeiro do Governo com os editais anteriores. Mais um exemplo da culpa dirigida.

Quem é o culpado por uma máquina enferrujada e sem recursos ou dotação financeira independente? Pela situação lamentosa da Orquestra Sinfônica, com uma apresentação durante o ano inteiro?

Por outro lado, volto à mesma tecla: faltou criatividade e pulso à FJA. Acho inadmissível três (ou quatro?) números da Preá em quatro anos. A queda de qualidade ainda se engole. Problema com gráfica, burocracia, segurança contra corrupção... Balela! Ba-le-la! Para o primeiro número, tudo bem. A experiência foi desfavorável? Muda-se de gráfica, ajeita a tal Manibu, da própria FJA, ou cria outros mecanismos. A Preá figurou na propaganda eleitoral do primeiro governo Wilma de Faria. Era publicação de referência no Estado e até fora. Não recebeu atenção merecida.

O Seis & Meia migrou para Mossoró. Bravo! Em quais condições? Cachê repartido e menos dias de show em Natal. Resultado? Cachês baixos e artistas menos conceituados. Alguns vieram a Natal pelo circuito do projeto em Campina Grande, João Pessoa e Mossoró, todos produzidos por Collier.

Ainda na área de música, o projeto Poticanto foi cancelado por desprestígio governamental. Era o mais charmoso projeto musical da cidade e detém dos maiores acervos da música potiguar, com apresentações memoráveis no TCP. Nelson Rebouças ainda espera captação de verba junto às empresas para retornar o projeto em 2011.

Assistimos ainda o fim do Som da Mata (responsabilidade do Idema) e do Ribeira das Artes (da FJA). O primeiro, por um confuso processo de licitação. O segundo, penso, por intriga pessoal entre FJA e Hilneth Correia.

Vou aqui só citar o número de projetos prometidos ou já aprovados, mas sem recursos para início: Microprojetos culturais do Semiárido; modernização da Biblioteca Câmara Cascudo; Pontos de Leitura; Pontinhos de Cultura; Encontro de Bandas; e Carreta-Palco. São projetos prontos. De quem é a culpa?

Às coisas boas: no último semestre vimos um Teatro Alberto Maranhão mais democrático e aberto aos artistas potiguares com a chegada de Ivonete Albano e o simples e eficiente projeto Fim de Tarde.

O trabalho realizado pelo Núcleo de Produção Digital, tendo à frente a jornalista e documentarista Mary Land Brito e os Pontos de Cultura também me pareceram iniciativas produtivas.

Funcarte
Sofre do mesmo desprestígio governamental. Vide cachês atrasados. Mas por ali eu sinto mais iniciativa e criatividade na procura por alternativas. E o período de turbulência parece ter passado. Não ouvi mais problemas de atraso. Uma reunião de portas fechadas para sanar débitos parece ter surtido efeito.

A contratação da competente Cida Campello para o lugar de Amaury Junior suprirá a falta de um Gustavo Wanderley ou um Josenilton Tavares por ali. A Funcarte parece ter encontrado seu norte.

E no primeiro ano a inércia completa imperou e o primeiro semestre deste ano produziu apenas um carnaval bem organizado (e com cachês atrasados) e um encontro literário produtivo (EELP), esse resto de ano parece mais promissor e acende pontas de esperança para 2011. Que venha uma nova revista cultural, os prêmios literários e a reabertura, sem desculpas, do Teatro Sandoval Wanderley.

E um salve ao trabalho realizado no CMAI, na Zona Norte, com variados cursos gratuitos à comunidade, na área de música.

Projetos consolidados
Festival MPBeco, Praia Shopping Musical, Prêmio Hangar, Centro Cultural Casa da Ribeira, Buraco da Catita, a Samba, o site Substantivo Plural e a Revista Catorze; a Flipipa; o Goiamum Audiovisual; O FestNatal; a Bienal do Livro do Seridó e de Mossoró; Festival DoSol; Festival Agosto de Teatro; Sebo Vermelho Edições; Nalva Melo Café Salão; Projeto Roda de Bambas; Forró da Lua; Projeto Pôr do Sol; Clube do Blues; Feijão com Rock; Cineclube Natal; Assembleia Cultural, o Show das Comunidades, e outros mais.

Perdemos
Além do Som da Mata, Ribeira das Artes e Poticanto, perdemos o site Balaio Porreta, de Moacy Cirne; o palco roqueiro do Sgt. Peppers; mais um ano sem a Bienal do Livro; e, este ano, o Mada, que fica para o próximo.

Ganhamos
Um movimento emanado da desunida classe artística natalense: o Baixo de Natal. Ganhamos um palco merecido aos grandes shows: o Teatro Riachuelo. Sem Preá, Brouhaha, temos nas bancas todo mês as revistas Palumbo e Glam. Uma nova casa de show na Ribeira: a Cultura Clube. O projeto Beco do Reggae, no Beco da Lama. Mais recente, o projeto Cantando & Conversando, em Pium. O blog de Carito. A reabertura do Lá na Carioca, com atrações musicais semanais. Um palco interessante aos artistas, no Casanova Eco Bar; o projeto Violões na Igreja do Galo; o projeto Dois Cantos; o Forraço (acho que voltou esse ano, né?); o Festival Universitário, e outros.

Mortes
Lamentamos as mortes de André da Rabeca; mestre, do Boi de Reis de Parnamirim; mestre Lucas, do Congo de São Gonçalo; e dona Militana Salustino.

No mais...
Vimos o Clowns de Shakespeare cada vez mais afinado; a trabalho abnegado de Eduardo Gosson na organização do Encontro Potiguar de Escritores; um mundo de cultura e tecnologia na SBPC, e a editora da UFRN ainda mais ativa. A orquestra de meninos carentes de Macaíba em pleno vapor, sob a batuta de Fábio Presgrave. Vimos nossos artistas galgando palcos além das fronteiras potiguares: Camarones Orquestra Guitarrística, Valéria Oliveira, Khrystal, Geraldinho Carvalho e uma penca de bandas indies bem articuladas fora do Estado, a exemplo do AK-47. Tivemos os 80 anos de Dorian Gray bem comemorados, com vários homenagens. A Galeria Newton Navarro ganhou gás com a chegada de Marcílio Amorim, e o trabalho de Vatenor à frente da Pinacoteca merece todo o meu respeito.

Música
Esquecerei duas dúzias de bons músicos e compositores. Tentarei lembrar o máximo, levando em conta o lançamento de bons e novos trabalhos (CD ou shows) em 2010 e algumas revelações: afora os já citados lembro de Antônio de Pádua, Simona Talma, SeuZé, Ivando Monte, Arquivo Vivo, Luiz Gadelha, Kiko Chagas, Samir Bilro, Carlos Bem, Banda Lunares, Linha de Passe, Hilkélia, Leno, Deamned Blues, Alzeny Nelo, Roda de Bambas, MC Priguissa, Macaxeira Jazz e mais um bocado.

Prefiro me isentar no comentário dos lançamentos literários porque li muito pouco esse ano, sobretudo a literatura potiguar (sem entrar no mérito se existe ou não, por favor). Não poderia deixar de citar os livros de Tarcísio Gurgel, Carmem Vasconcelos e Leide Câmara. Mas nossa produção ficou bem aquém de 2009 - esse comentário eu arrisco.

É isso. Foi o que lembrei de uma sentada só. Há inúmeras faltas. Só no tempo de eu postar, já voltei para acrescentar dois nomes. Imagine amanhã, o que eu lembrarei. Fica pra vocês me ajudarem.

6 comentários:

  1. Aproveitando o ensejo desta retrospectiva, envio-lhe este convite:
    A cearamirinense MARIA CONCEIÇÃO CÂMARA DA SILVA, mais conhecida por CEIÇINHA CÂMARA, radicada em Vila do Bispo/Região Algarve-PORTUGAL, promove, juntamente com a SPVA-RN (Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte), o “2º SARAU DO REENCONTRO” e tem a honra de convidá-lo (a) para prestigiar esse belo evento, no dia 22 de Janeiro de 2011, a partir das 16 horas, em Idiana Recepções, rua Prisco Rocha, nº 1070, bairro Passa e Fica, Ceará-Mirim/RN.
    O evento tem como objetivo precípuo, a divulgação dos artistas da terra, através de intercâmbio cultural entre CEARÁ-MIRIM e VILA DO BISPO, como também, apresentar e reconhecer, as grandes riquezas culturais e os grandes valores artísticos que o nosso VERDE VALE possui.O evento contará com participação de várias personalidades ligadas à cultura.VALOR DA ENTRADA: LIVRE PARA TODOS QUE GOSTAM DE POESIA E DE MÚSICA! Um cordial abraço, do além-mar... Ceiçinha Câmara

    ResponderExcluir
  2. Ceicinha, você me apresentou minha primeira grande falha. Parabéns ao trabalho abnegado da SPVA. E uma crítica: vocês (ou a SPVA) divulgam mal as atividades promovidas pela Sociedade. Aqueles saraus no Canto do Mangue são fantásticos e ninguém fica sabendo! Abração!

    ResponderExcluir
  3. Até que enfim uma foto de Sérgio de frente.

    ResponderExcluir
  4. Pois é. E eu pensava que ele era mais bunitim.

    ResponderExcluir
  5. Num tem jeito de pedir comentário produtivo. Mas quando o "malhado" é o próprio editor do blog, o comentário é aprovado..rs

    ResponderExcluir
  6. Voltando para registrar o comentário de Eduardo Alexandre (Dunga), de que o livro de Tarcísio Gurgel foi lançado no fim de 2009, e não em 2010, o que justifica ainda mais meu comentário de que o segmento literário esse ano foi fraco em Natal. E ainda dois registros de Alex de Souza: as revistas Salto Agulha e K-Ótica. E apois.

    ResponderExcluir