domingo, 30 de maio de 2010

O mundo mágico da ilusão infantil


O público infantil tem se mostrado garantia de sucesso a produtores de peças e espetáculos teatrais

Nem só de bytes eletrônicos vive a criança de hoje. A arte e o entretenimento voltados ao público infantil têm se mostrado excelentes opções para produtores culturais. Os espetáculos são geralmente lotados de pais e filhos. As alternativas são cada vez mais sortidas e abrangem apresentações musicais, teatrais e circenses. Valores de ingressos também variam, desde as opções gratuitas aos ingressos mais caros para assistir produções de grupos teatrais inspirados em personagens da TV.

Há alguns anos a criança ficava à margem das conversas de adulto. Hoje ela decide sobre o consumo da família. Especialistas recomendam aos pais mostrarem opções de atividades lúdicas relacionadas às artes para despertar o interesse e a imaginação da criançada no contato direto com o universo artístico. A mescla entre teatro, música e espetáculo circense é a tônica de apresentações especialmente montadas para invadir o universo infantil e comunicar mensagens pedagógicas à criança.

Efeitos visuais, cores, narrativa dinâmica e incrementada por fundos sonoros atraentes são alguns dos elementos necessários aos bons espetáculos voltados à criança. “Pesquisamos o universo infantil antes da montagem das apresentações. Consideramos muito a memória de quando éramos crianças. O que gostávamos de ver? O que nos divertia? Eu, por exemplo, adorava ver animais, mas em zoológico. Não tinha paciência para vê-los em números circenses. Então, nosso circo abdica dos animais não por ideologia, mas porque não surte efeito nas crianças”, comenta Nil Moura, diretor do Circo Grock.

No Circo Grock, Nil incorpora também o personagem Espaguete, um dos palhaços do circo. E como palhaço, costuma brincar com a realidade, com as cenas cotidianas. “Outra características dos nossos espetáculos é a ousadia. É desejo da criança a quebra das regras vigentes, tão alicerçadas pelos pais quando ensinam o que é certo e errado. E os palhaços têm esse poder de reinventar o universo infantil de maneira didática, ousada e irreverente. Funciona como ferramenta inusitada para explicar uma realidade que os pais não conseguiriam repassar à criança”, explica Nil Moura.

Tropa Trupe
A companhia Tropa Trupe também desenvolve trabalho circense e específico para crianças. Reconhecidos pelas pernas de pau, os atores incrementaram seus espetáculos e oferecem uma gama de atividades lúdicas para envolver a criança em números de malabarismos, acrobacias, cama elástica, e estórias didáticas para entreter o público infantil e até mesmo o adulto. “Montamos o espetáculo Nosso Grande Circo há dois meses. Mesmo sem divulgação o público tem comparecido cada vez mais”, comemora Rodrigo Brugguemann, um dos integrantes do Tropa Trupe.

As apresentações ocorrem todos os sábados sob a lona montada próximo ao ginásio poliesportivo da UFRN. O início é às 17h e o ingresso a preços populares cobra R$ 5 do adulto e R$ 3 para crianças até 12 anos. A estória do Nosso Grande Circo conta a trajetória de palhaços que formam um grupo e são cobrados pelo dono do circo a fazerem a melhor apresentação de suas vidas para não serem despedidos. “É uma estória bem envolvente e sentimos a atenção e a participação das crianças durante o espetáculo”, se orgulha Rodrigo.

Outra opção barata é o projeto Bosque em Cena, realizado nas manhãs de cada domingo no Parque das Dunas. Pelo preço simbólico de R$ 1, os pais podem levar seus pimpolhos a assistirem espetáculos montados exclusivamente para a criança. Um deles, a peça Em Cada Canto, um Conto, encenado pelo grupo Estação de Teatro, também fez temporada na Casa da Ribeira com grande sucesso de público. Os contadores brincam com a caricatura de diferentes personagens dos contos populares, através da performance corporal e vocal, além de utilizarem bonecos e elementos cênicos para complementar a cena. O Bosque em Cena, suspenso pela burocracia, tem estimativa de volta no mês de junho.

TAM infantil
Em praticamente todos os fins de semana o Teatro Alberto Maranhão tem oferecido espetáculos infantis, a maioria com personagens infantis da TV. “O certo seria todo fim de semana, como é tradição desde a época de Jesiel Figueiredo. Deveria ser obrigatória a regularidade dos espetáculos infantis. Temos a obrigação de cuidar da formação cultural dos nossos pequenos”, sugere o produtor Amaury Júnior, que há oito anos promove shows para esse nicho de mercado.

Amaury lembra da falta da Cidade da Criança, da suspensão dos projetos culturais no Parque das Dunas e da carência de um olhar mais abrangente do empresariado, do poder público e da população também. “Até o Circo que está armado ao lado do Machadão enfrenta dificuldades. Enquanto isso, os games nos shoppings vivem lotados, por falta de opções melhores”, ressalta.

Teatro comercial
“Consigo esgotar os ingressos – e às vezes fazer segunda sessão – quando os espetáculos são oriundos de um produto de televisão, como os Barckyardigans, o Barney, Pica Pau, Ben 10 ou Scooby Doo. Os clássicos, como Branca de Neve, Alice e Chapeuzinho Vermelho, agente ainda consegue uma casa boa. Mas, quando colocamos um espetáculo de cunho estritamente educativo ou pedagógico, infantil mesmo, incentivando a cultura popular, esses deixam sempre a desejar no quesito público. As crianças não se interessam, porque os pais não se interessam”, lamenta Amaury Júnior.

Nil Moura, diretor do Circo Grock, acredita que falta a esse tipo de espetáculo de cunho comercial a “comunicação com a criança, a troca de valores humanos e de crescimento para o artista e o público, que vão além do valor da bilheteria”. E opina: “O foco não é a comunicação pedagógica, o teatro, mas transmitir a estética da moda. E do ponto de vista teatral, é uma estética feia. Funciona na TV, mas no palco de um teatro fica esquisito”, afirma o diretor.

Apesar de lamentar a falta de público em produções de cunho pedagógico que ele mesmo produz, Amaury Júnior questiona a opinião de Nil Moura. Segundo o produtor, as produções de shows infantis são vantajosas: têm custos menores e públicos maiores. “Vivo de uma indústria chamada cultura; sou operário dela e não tem essa história de fazer cultura por filosofia de vida, ideologia ou filantropia”. E finaliza: “Trabalho em prol da profissionalização cada vez maior do mercado. É meu ganha pão, apesar de muitos tacharem que ‘teatro comercial’, não é cultura. É cultura sim, senhor”.

Musical Pica-Pau
O que: Comédia musical estudada para educar as crianças direcionando-as a responsabilidade sócio-ambiental
Onde: Teatro Alberto Maranhão
Data e hora: hoje, às 17h
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Vendas: Livraria Nobel. Informações: (84) 3222-2565 e 8837-1553

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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