segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mendigo - Othoniel Menezes

Mendigo

Eu tenho, dentro de mim, um grande pesadelo,
Um turvo mal secreto, um rio de amargura...
No céu de minha vida a luz do setestrelo
Não resplende através da longa noite escura.

Eu tenho, em cada riso, um travo de loucura,
Em cada olhar cansado, a insipidez do gelo...
Levo nos ombros a cruz de minha desventura,
Recordando o teu rosto... a cor dos teus cabelos.

E proscrito, e sem fé, e sem o teu carinho,
A gemer e a chorar eu vivo aqui sozinho
O mel do teu sorriso impresso na lembrança...

Invoco todo dia essa ventura morta...
E ando como um louco, assim, de porta em porta,
Ashaverus do sonho... em busca da esperança...

(Othoniel Menezes)

* Asvero ou AAsvero é personagem lendária, mais conhecida pelo nome de judeu errante, conforme o Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse e segundo registra a biografia Príncipe Plebeu, de Cláudio Galvão, de onde foi extraído este que é o primeiro poema publicado de Othoniel Menezes. Foi em 1911, no periódico A República.

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