Grupo Teatro Janela inaugura experimento cênico semelhante ao revolucionário Teatro do Oprimido de Augusto BoalA revolução deflagrada na década de 60 foi além do Cinema Novo, da Jovem Guarda, das revoltas estudantis ou paradigmas de costumes. Naquela década embalada pela beatlemania, o Teatro de Arena em São Paulo assistia o embrião de uma revolucionária ideia. O teatrólogo e dramaturgo Augusto Boal quebrou o monólogo tradicional e passou a pensar o teatro como diálogo. Surgiu assim o Teatro do Oprimido, com a finalidade da abertura democrática do debate e da reflexão com a plateia.
Natal está prestes a receber experimento semelhante, já na dita contemporaneidade. O Grupo de Teatro Janela apresenta nestas quinta e sexta-feira o espetáculo
Volta, ao Ponto. Um experimento, na Casa da Ribeira. A proposta é de um espetáculo aberto e mutável. Ele inaugura, junto com o Janela, um novo processo de pesquisa cênica na vida artística dos participantes. Em sua execução, os atores do grupo propõem maior cumplicidade com a platéia, transformando-a, assim como o Teatro do Oprimido, em sujeito da obra.
Apesar das similaridades com a proposta de Boal – ainda difundida em diversos países –, o alicerce para montagem do espetáculo é o conceito de Estética Relacional, teorizado pelo crítico de arte Nicolas Bourriaud – um dos papas da arte contemporânea francesa. A prática da Estética Relacional implica em ser para além do ser, tanto na ética como nas interações humanas. Quando o sujeito está diante do outro, frente a frente, sente-se responsável. Esta necessidade de calor humano, numa sociedade carente de humanidade é um dos questionamentos abordados no experimento.
A atriz Cris Reliê explica que a proposta do espetáculo é inversa à essência do Teatro do Oprimido. “Enxergamos o público como sujeito da obra, capaz de 'se inserir' nela. O público se coloca como objeto 'transformador' da realidade em que vive. Acho que o Teatro do Oprimido é uma transformação imposta de dentro pra fora (do palco para a platéia). E na Estética Relacional isso ocorre de forma inversa: o processo de mudança é de fora pra dentro, ou seja: parte do público para o espetáculo, para então estabelecer o diálogo relacional”.
De toda forma ambas as propostas fogem da interpretação da realidade. É, antes, um convite à transformação dessa realidade. Ou vai além da representação quando convoca o espectador a participar da cena e abrindo pra ele a possibilidade de recriar essa realidade. Na ideia de Augusto Boal, o espectador assume o papel do oprimido e propõe soluções para o conflito. No espetáculo do Grupo Janela, o tema abordado no experimento é a ‘angústia’. Foi a partir dele que o grupo focou sua pesquisa para montagem do espetáculo.
A execução de
Volta, ao Ponto – primeiro trabalho o grupo Janela (formado em 2009) – trata de uma contação de histórias, cujo personagem percorre um caminho de busca e encontro de si e do amor perdido, revelando suas intimidades e inquietudes. “O público será o grande cerne da questão. Ele decidirá todo o percurso do experimento. E a forma como desenvolveremos isto no palco junto com o público, só quem comparecer poderá testemunhar”, provoca a atriz e arte-educadora Cris Reliê, também um dos membros do Núcleo de Jovens Artistas.
A dramaturgia é uma livre adaptação do conto
Além do ponto, de Caio Fernando Abreu. Outra forte inspiração para a montagem é a música
Volta, das cantoras potiguares Simona Talma e Khrystal. A direção é coletiva, bem como sua concepção. A proposição, entretanto, é do membro José Neto Barbosa, dentro do Projeto Abrindo Janelas. Para a montagem, foi essencial a contribuição da atriz Paula Vanina, do músico Luiz Gadelha e do bailarino Rodrigo Silbat, em laboratórios de criação cênica, musicalidade e oficinas de preparação corporal. O grupo contou também com o auxílio da atriz Titina Medeiros.
O elenco é composto por José Neto Barbosa, Ana Carolina Marinho, Cris Reliê e Ranniery Sousa. A apresentação na Casa da Ribeira conta, ainda, com a participação de Natália Oliveira, que além de assinar os figurinos, executa a trilha sonora ao vivo.
Projeto Abrindo JanelasUma vez que o Janela trabalha com a direção coletiva, o Projeto Abrindo Janelas trata-se de uma espaço para que cada integrante do grupo possa propor uma pesquisa e uma dramaturgia, que será desenvolvida em conjunto.Além de Volta, ao ponto”, atualmente o Janela estuda a obra do dramaturgo potiguar Racine Santos A grande serpente, para uma futura montagem. A proposição é da atriz Cris Reliê, convidando os integrantes a embarcar no universo nordestino. Dentro do processo, o grupo fez viagens laboratoriais pelo interior do RN e realiza pesquisas contínuas em sala de ensaio.
Espetáculo Volta, ao Ponto. Um experimentoQuando: quinta e sexta-feira
Onde: Casa da Ribeira
Hora: 20h
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Contato: 9163-5300 (Ana Carolina Marinho) e 8821-4416 (Cris Reliê)
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