sábado, 26 de junho de 2010

Metralhando o provincianismo


Banda potiguar de rock selecionada pelo Mada tem agenda de shows marcada no “Velho Continente”

As muralhas fronteiriças deste Estado-elefante ou desta Natal de olhos virados para o mar são sempre mais altas para os artistas enaltecidos, registrados e lucidamente desconsagrados por Cascudo. A banda AK-47 mostra que é tudo questão de contato e alguma sorte. Dependesse de qualidade, talento, Natal exportaria para o Brasil mais do que frutas tropicais, pescados e Giliard.

Após desbancar dez artistas e bandas na seletiva para o Radar Indie, nos dois dias do evento do Mada, o quinteto AK-47 prepara as malas para incursão à Europa. O grupo foi confirmado como um dos headlines do festival Open Circle Festival, na cidade de Spreitenbach, Suíça. A bagunça começa em 3 de setembro. Até lá, a galera estenderá o pires em busca de patrocínio para os 22 dias de excursão.

Além do show na Suíça, a banda se apresentará na Áustria, Luxemburgo, França, Itália e Alemanha, em turnê com os dez shows agendados. A banda será a única atração brasileira em três edições do festival europeu. “O festival na Suíça será a porta de entrada para os outros shows. Temos que confirmar participação até a segunda quinzena de agosto, com toda a documentação, inclusive as passagens”, disse o baterista Artur Dantas.

As tentativas para coletar quantia próxima a R$ 15 mil para as passagens virão sob duas frentes. A primeira é nacional, com inscrição nos editais do Ministério da Cultura – já que o município e estado já negaram ajuda. A segunda é junto à iniciativa privada. O retorno da imagem vem pela mídia espontânea e marca no festival com público estimado em mais de 3 mil pessoas.

Radar indie
Semana passada a banda AK-47 e o grupo Pedubreu foram os vencedores da seletiva promovida pela produção do festival Música Alimento da Alma (Mada) – o maior do Estado e de repercussão nacional – para se apresentar na programação alternativa do evento. Disputaram com outras dez bandas, entre elas Clara e a Noite, Yanks, Decreto Final e músicos renomados como Júlio Lima.

Artur atribui o sucesso aos quatro anos de trabalho. Nesse período, a banda conseguiu projeção local ao tocar em festivais como o Dosol e CaosNatal, e nacional, ao se apresentar, em 2009, no Palco do Rock, em Salvador. Foi lá onde abriu o show da banda suíça UnderSchool Element e o contato dos produtores das duas bandas resultou no convite para tocar no festival da Suíça, em setembro.

A AK-47 já foi citada pela revista Rock Star, na Suíça, como um das atrações do festival. “O nome da banda é uma metáfora de como a música pode atingir uma pessoa. É uma alegoria para o uso dessa arma. O nome ganhou força depois que a perspectiva política foi deixada e passamos a investir mais no aspecto visual e artístico. Começamos a trabalhar com ideias performáticas, um processo gradual de amadurecimento. Então, a AK-47 é uma arma em constante uso e novas significações”, detalhou o vocalista Juão.

Um dos pontos altos dos shows da AK-47 fica por conta das performances temáticas preparadas pelo grupo a cada apresentação. Geralmente, as idéias surgem de Juão, que mescla a experiência adquirida no curso de Licenciatura em Teatro e apresenta o esboço para os demais integrantes que elaboram conjuntamente um conceito único. As performances fazem referências a personagens e a obras literárias, cinematográficas e de artes plásticas que possuam relação com a proposta da banda.

A banda já surgiu com som intenso, pesado e fluido. A singularidade é marca da AK-47, com foco em músicas próprias, reflexo de espontaneidade e criatividade dos componentes. O grupo teve início em festivais de colégio, mas logo cruzou os muros estreando para o grande público no evento “New Generation” que abriu as portas para novas bandas do Rio Grande do Norte.

O grupo AK-47 é formado por Juão (voz), Gil (guitarra), Renno (guitarra), Teta (baixo) e Artur (bateria). Apesar de priorizar as músicas próprias, a banda chegou fazer versões de canções bastante conhecidas como Frevo Mulher de Zé Ramalho e Another Brick in the Wall do Pink Floyd.

* Matéria publicada neste sábado no Diário de Natal
- Foto de Diego Marcel

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