domingo, 20 de junho de 2010

Sepultamento de Dona Militana

As informações a respeito do velório, missa e sepultamento, informadas abaixo, me foram repassadas por Deífilo Gurgel. A jornalista Cinthia Lopes afirmou ter recebido da prefeitura de São Gonçalo que o velório seria na própria residência da romanceira. A essa hora - madrugada de domingo - só resta mesmo é lamentar a morte desta figura folclórica descoberta pelo mestre Deífilo. Triste também é já vislumbrar um enterro magro de pessoas, justo na véspera ou mesmo durante o jogo do Brasil pela Copa. Ora, se uma figura como Oswaldo Lamartine arrastou pouquíssimas pessoas ao seu sepultamento, imagine uma figura menos "proeminente", digamos, em época de Copa do Mundo e na distância de São Gonçalo.

Que fique, então, os registros do CD triplo - ideia brilhante de Dácio Galvão e Candinha Bezerra - com grande parte dos romances de Dona Militana. Também as entrevistas e matérias publicadas em jornais. Mais ainda a importância desta figura de simplicidade tão ingênua, que recebeu o reconhecimento público tardiamente graças à descoberta de Deífilo e o prestígio da atual gestão municipal de São Gonçalo, que lhe concedeu pensão vitalícia. Momento oportuno para lembrar de tantos outros mestres do folclore potiguar que vivem à míngua. Mestre Lucas, que por décadas comandou uma vertente de congada, é um deles, também de São Gonçalo. Sofre de um problema na perna e precisa de uma cirurgia de catarata.

Meus lamentos à família da romanceira e aos mestres que ainda esperam - se é que esperam - mais reconhecimento. Fico com as lembranças de uma manhã alongada, de papo solto de quintal, ao lado de dois valores imortais de nossa cultura: Deífilo e a filha de "seo" Anastácio Salustino, tão ingênua, tão brejeira tão doce e valente ao rir contido e ameaçar de peixeira. Se ela soubesse de sua dimensão cultural talvez caminhasse mais esguia e confiante, em vez do andar emborcado, com as mãos dadas para trás. Talvez fosse menos desconfiada, ciente da proteção necessária ao seu tesouro; ou se imaginasse em cenários glamourosos das jornadas que cantava. Mas fosse assim não seria tão Militana.

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