quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cineclube abre nova temporada em Nalva


Nesta sexta-feira, o Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Café Salão exibirá a produção Os Deuses Devem Estar Loucos, dentro do projeto Cine Café. A sessão começará às 20h e a taxa de manutenção custa dois reais. A censura é livre.

O filme escolhido abre o ciclo temático do mês de junho, intitulado "Lembranças de Sessão da Tarde", dedicado àquelas produções familiares que costumavam ser mostradas à exaustão nas décadas de 80 e 90, mas que foram tristemente esquecidas nos dias de hoje, em que as exibições vespertinas se resumem a comédias de gosto duvidoso, em que "uma turma muito louca" sempre "causa muita confusão" e obviamente tudo é "bom pra cachorro".

O Cineclube abre com o divertidíssimo Os Deuses Devem Estar Loucos (The Gods Must be Crazy", 1980), do diretor Jamie Uys. O filme tem início no deserto do Kalahari, no Botswana, junto à Africa do Sul, numa pacata e semi-desértica paisagem, mostrando uma cena da vida cotidiana de um grupo de bosquímanos que decorre calmamente, até que uma garrafa de Coca-Cola jogada de um avião fazem os nativos da tribo acreditarem que é um presente dos deuses. Mas como a "dádiva" gera uma série de discórdias, eles decidem devolvê-la aos deuses, escolhendo um dos seus para fazer a devolução.

É uma comédia simples e absurda, que levou quatro anos para ser lançada nos Estados Unidos, mas quando foi, marcou um recorde de bilheteria. Indubitavelmente é uma boa comédia, que foi produzida com um baixo orçamento, assim como tantas outras. Trata-se de um filme interessante por diversas razões, mas especialmente por proporcionar entretenimento e prazer, conduzindo-nos às deslumbrantes paisagens africanas num contexto cultural totalmente diferente do nosso.

O enredo do filme nos confronta com situações caricatas que geram saudáveis gargalhadas, ocasionando também uma reflexão a respeito de nós, dos outros, e de como reagimos em relação aos imprevistos e às situações novas, à mudança, afinal.

O fato é que a metáfora de Jamie Uys foi aclamada e repudiada (o filme foi banido de Trinidad e Tobago por ser considerado racista) e virou objeto para vários estudos sociais e antropológicos. Como uma simples comédia africana, que tem como protagonista um autêntico bosquímano (que nunca tinha tido contato com a civilização moderna e nunca tinha praticado nenhum tipo de representação, nem na sua cultura), um orçamento baixo e pouquíssima divulgação pode criar tamanha repercussão?

O motivo foi a sagacidade de Uys ao mostrar o ‘desenvolvimento’ e a tentativa do homem que, em vez de simplificar a sua vida, só a torna mais complexa, obrigando-o a reinventar-se. E, no lugar de mostrar o drama do nosso dia a dia, faz comédia através dos olhos ingênuos de quem conhece realmente a simplicidade. No dia em que o mundo se vira para a Árica pela abertura da Copa do Mundo, o Cineclube Natal faz sua homenagem ao continente ao exibir este exemplar que tanto embalou as tardes de toda uma geração.

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