sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Música Contemporânea Brasileira


Camila Masiso se debruça em novas sonoridades após fase pop e desafia velhos estigmas do samba

Sambista respeitado se cria em sambas de roda, na linha de frente do partido alto. Né, não? Nos últimos anos o Brasil tem visto que não. A regra tem sido quebrada e os sambistas da velha guarda têm assistido novas variantes do gênero. Roberta Sá, Céu, Mariana Aydar, Maria Rita e mais uma penca de intérpretes de um samba meio Bossa Nova, meio MPB, meio... "Não sei o que é. Ora, o samba se desdobra em variantes. Samba não precisa ser o partido alto. Quero quebrar esse preconceito e mostrar que a música contemporânea brasileira pode ser tão boa quanto era antigamente".


Ex-integrante do grupo Tricor, a cantora pretende mostrar seu talento na França após lançamento do primeiro CD Foto: Bruno Povoa/Divulgação
A autora da frase acima é a jovem cantora Camila Masiso, ex-integrante do grupo pop Tricor e agora uma promissora intérprete do que chama de "música contemporânea brasileira". A razão do conceito tão abrangente é a mistura instrumental e rítmica inserido nas nove faixas do novo CD Boas Novas, com lançamento previsto ainda para agosto. Mas a essência sonora é mais restrita: "É samba, mas passeia por vários gêneros. Se escuta um afoxé, lá atrás vem um maracatu; tem o trombone que dá uma pegada bossanovista e muitos elementos regionais", conceitua a cantora.

O repertório todo autoral já tem sido trabalhado nos shows. Quem quiser conferir, tem apresentação da moça na noite de hoje, na Boate Vogue. O instrumentista Diogo Guanabara e integrantes do Macaxeira Jazz - Henrique Pacheco (contrabaixista) e Rogério Pitomba (baterista) - tem acompanhado Camila nos shows e são autores de boa parte das canções. Ainda uma parceria de Babal e Pedro Mendes, e composições de Turi Matias e Maikel Câmara. "Talvez esse seja meu diferencial: trabalhar a música autoral. É relativamente fácil regravar clássicos da música brasileira", opina.

Camila descarta comparações, foge do referencial de Roberta Sá e busca o encontro com seu estilo após longo passeio por bandas teenage. A banda Tricor virou lembrança saudosa da apresentação no Programa do Jô, na Globo, e da gravação do único CD da carreira, em 2008. A carreira-solo paralela à bandajá apontava novos caminhos. "Quando Karol Pozadski (ex-Inácio Toca Trompete) me chamou para o show Cantoras do Brasil, no Galpão 29, selecionei canções de Céu, Roberta Sá, Vanessa da Mata e Maria Rita. Foi um sucesso. Fizemos o segundo e outras referências me chegaram. Descobri mais de Chico Buarque, Dorival Caymmi, Caetano. Vieram outros convites, aprimoramos o repertório e não parei mais".

Critérios
Mais segura e estilosa, Camila Masiso aposta nesta nova fase. "Combina mais comigo". Mesmo ciente do público mais seletivo e exigente. "O leque de público é mais amplo. Pessoas de 70 anos agora escutam minha música. Mas por outro lado, é também mais segmentado e criterioso. Conseguir cativar plateias como essa é um prêmio". E para tanto, Camila tem buscado novas referências e conhecimentos musicais. "Procurei a Teresinha de Jesus, Aldir Blanc, MP4. É muita gente boa. Foi uma transformação radical. A lista do meu Ipod mudou completamente", brinca.

De olho no mercado europeu
Para lapidar a técnica vocal e adquirir mais experiência, a cantora já agendou viagem à França em outubro. A intenção é estudar música, participar de festivais (ela foi uma das cinco finalistas do Festival MPBeco 2009, interpretando a música Na Quina, composta por Diogo Guanabara e Rodrigo Levino) e apresentar o CD ao mercado francês. Também estão nos planos de Camila Masiso a gravação de novo CD, com regravações de clássicos da MPB. Por enquanto, ela prepara o lançamento do Boas Novas, em data e com convidados ainda indefinidos. De certo, uma bela noite musical no Teatro Alberto Maranhão e uma prévia à imprensa em formado de pocket show.

O CD Boas Novas foi gravado de forma independente. Camila estuda a possibilidade de enquadrar o produto na tecnologia SMD - o que parece uma tendência entre artistas independentes (segmento também em ascensão). É um novo conceito de reprodução musical em formato de CD, semimetalizado e com mudanças simples de padrão visual. Preserva os direitos autorais e reduz o custo da produção do CD, em média de 80% para o artista. "É uma solução para baratear custos. Bancar tudo como produção independente dificulta muito". E outra estratégia de divulgação já definida é a inauguração do site da cantora, marcado para 20 de agosto.

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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