sábado, 1 de maio de 2010

Análise sobre o EELP


Publico a seguir minha análise a respeito do EELP. Nos posts mais abaixo estão o texto que produzi para o encerramento do evento e a crônica a qual o poeta e amigo Lívio Oliveira, generosamente, citou à mesa para comentar a respeito de cosmopolitismo e provincianismo. Dessa maneira, atendo aos poucos pedidos que me foram dirigidos durante o evento.

Adianto que esta análise é desprovida de compromisso com qualquer instituição, rancor por alguma espécie de destrato, despeito ou aversão à gestão municipal. Trata-se somente de um olhar restrito à realização do evento. Um olhar de quem ajudou na organização, assistiu as palestras e cobriu como jornalista três edições do ENE – o insistente parâmetro de comparação –, além de bienais de Natal e Fortaleza, entre outros eventos literários locais.

Vamos aos fatos: O EELP foi idealizado e anunciado quatro meses antes de sua realização – tempo curtíssimo para a perfeita organização do evento. Conseguiu trazer mais de 30 escritores estrangeiros, além de nomes nacionais como João Ubaldo Ribeiro, o jornalista Paulo Markum, o poeta porralouca Jorge Salomão e o compositor Chico César. Durante os três dias do evento, os 600 lugares do TAM foram preenchidos.

Qual o propósito do evento: promover a discussão literária em torno da língua portuguesa, estreitar laços entre a intelectualidade e as instituições acadêmicas de Natal com os escritores dos países cuja língua materna é o português, incentivar o gosto pela leitura com eventos literários e fomentar o turismo na cidade em período de baixa estação. Na minha opinião, todos os objetivos foram alcançados.

A companhia aérea TAP manteve os vôos diretos para a Europa, quando a intenção era reduzir. Durante uma semana Natal foi a capital mundial da língua portuguesa, com manchete em jornais da Europa e África, Sites como o Uol e a revista Época publicaram matéria. A emissora SIC Internacional, com alcance em mais de seis países, e a RTP de Portugal e África produziram matérias com mais de uma hora e links ao vivo durante a programação. A mídia local também foi intensa, com participação de escritores estrangeiros na TV e em entrevistas em jornais.

O evento foi encerrado já com data marcada para a segunda edição: 25, 26 e 27 de abril de 2011. Foi anunciado o intercâmbio regular, a cada três meses, de um escritor estrangeiro de língua portuguesa em Natal. Há, ainda em discussão, projeto para visitas regulares ao Instituto Câmara Cascudo, em razão da visita da comitiva dos escritores ao local. E um livro com todo o material do evento será lançado durante a SBPC, na UFRN, em julho deste ano.

As discussões foram riquíssimas. No primeiro dia, a erudição do crítico literário e acadêmico Carlos Reis impressionou e trouxe luzes acerca do termo Lusofonia, além da discussão sobre o novo acordo ortográfico. A palestra de Diógenes da Cunha Lima também foi bem interessante. Ana Maria Cascudo trouxe à tona informações curiosas de Cascudo e sua ligação com a África e Portugal. A participação do escritor timorense Takas foi mais discreta, mas poética. E a do poeta português Antônio Carlos Cortez, de interesse mais acadêmico.

A marca do segundo dia do evento foi a aula de quem “desconhecia” o assunto. João Ubaldo Ribeiro impressionou não apenas pela erudição, mas pelo bom humor, em uma mesa igualmente qualificada, ainda com Livio Oliveira, Tarcísio Gurgel e seus causos e a simpática crítica literária de São Tomé e Príncipe, Inocência Mata, que também abrilhantou o debate com verdadeiras pérolas frasísticas.

O terceiro dia tinha tudo para ser o melhor dia. E foi. Começou chatíssimo com longa leitura do esperado Agualusa. Pensei na decepção, mas a mesa foi a mais dinâmica, provocada habilmente pelo moderador Tácito Costa. Quem fala melhor deste último dia é Lívio Oliveira, no post mais abaixo. Ressalto apenas o TAM abarrotado de gente para assistir Chico César.

NOVO ENE

Independente da perfeita ou confusa realização é preciso considerar a primeira edição do evento – vamos lembrar do primeiro ENE! Considerar, também, que o EELP não veio para substituir, mas para somar. É mais um encontro literário para a cidade, em um período vazio de eventos do tipo. Temos ainda a Flipipa, em setembro, e o Encontro Literário promovido pela União Brasileira de Escritores, em outubro.

Durante o Natal em Natal, haverá, sim, um substituto do ENE. Ao contrário do que já publicaram, virá com outro nome e outro formato. Este, sim, mais aberto. A princípio, também no TAM, mas com o largo da praça Augusto Severo rodeado de exposições, apresentações e atividades paralelas – uma espécie de Ribeira das Artes. E com palestras concomitantes no auditório do Museu Djalma Maranhão.

CRÍTICAS CONSTRUTIVAS

Sem achismos, previsões preconceituosas ou até opiniões consolidadas sem fundamento, teço minhas críticas ao evento, como fiz todos os anos com o ENE. Ou ninguém lembra da confusão de gente para entrar no show de Zeca Balero? Da falta de banheiros químicos? Das cadeiras vazias na maioria das palestras? Do gelo incômodo dentro da tenda? São pontos negativos em meio a outros positivos e bem mais significativos que trouxeram ao ENE o status de um evento literário consolidado e relevante para Natal.

Esses e outros pontos negativos foram publicados à época, mas hoje o ENE se pinta como perfeito para denegrir – mesmo antes de acontecer – o EELP. Criticar sem mostrar caminhos, acho inválido, improdutivo. Algumas falhas precisam, claro serem corrigidas. A comunicação foi atrapalhada em função das indefinições e da necessidade urgente de propaganda do evento, já que foi idealizado em cima da hora, sem falar da total falta de estrutura da Funcarte para a assessoria de imprensa. Sequer há assinatura de jornais, a internet é lenta e o acesso a blogs e twitter é bloqueado.

O acesso ao TAM no primeiro dia foi tumultuado. Achei burocrático e problemático o trâmite: preenchimento de ficha, envio pela internet, espera por confirmação e procura por credencial. Vi, ouvi e li várias reclamações a respeito. Também presenciei o estresse das funcionárias da Funcarte em atender a demanda. Acredito que muita gente ficou inibida diante de tanta burocracia, falta de confirmação ou indefinição.

Opino que o melhor sistema é mesmo a preferencial para quem chegar antes ou se dispor a, pura e simplesmente, pegar uma credencial direto na Funcarte ou no local, antes do início do evento. Caso haja tumulto, a culpa passa a ser da mania do brasileiro em deixar pra última hora. É uma maneira de beneficiar o precavido ou o pontual. O risco aí é o de muita gente ficar do lado de fora. Mas há já a ideia de colocar um telão na praça para quem preferir acompanhar de fora ou chegar atrasado.

E por que não colocou neste ano? Por falta de tempo e por causa de outra falha no evento, ao meu ver: o horário. Às 15h o sol atrapalha a imagem de um telão. Afora o incômodo para quem trabalha neste turno. É bom lembrar que, embora comece às 15h, segue até às 20h30. Adiantar o horário também significa término tardio do evento. Ainda assim, acharia melhor. É a minha opinião.

Uma observação merece reflexão. Durante os três dias, o evento iniciou com casa lotada. No primeiro dia, gradativamente a plateia – formada em maioria por estudantes – saiu. No intervalo das palestras, um terço ou até mais havia ido embora. Ao final, cerca de metade estava presente. Pouca gente ficou para assistir o show do Octeto de Violoncelos.

O que se depreende daí? Shows mais pops como o de Valéria Oliveira ou, principalmente, Chico César, atrai mais público. Basta comparar com o ENE, quando excelentes nomes das letras juntavam uns gatos pingados, enquanto Arnaldo Antunes lotava a tenda. É uma alternativa, até para quebrar o cunho acadêmico do evento.

Também achei poucas as parcerias para exposições no evento. Isso, com certeza, em função do tempo. Apenas a Potylivros montou um singelo estande para comercialização de livros e a Academia Feminina de Letras expôs seu acervo no escondido e pouco freqüentado Salão Nobre do TAM, no andar superior. São erros facilmente corrigidos na próxima edição. A procura constante da imprensa para entrevistas com João Ubaldo e Agualusa forçou uma coletiva mal programada no TAM e causou confusão de horário para coleguinhas jornalistas.

As regras do evento também precisam ser mais explicadas aos escritores não-participantes da mesa de debates e a plateia. E acho que esse papel não cabe ao moderador.

GINGA E PRÊMIOS LITERÁRIOS

Não considero falha a ausência do lançamento da Revista Ginga e o anúncio dos prêmios literários, afirmado pelo jornalista Fábio Farias. Essa programação seria para o ENE, em novembro. Em fevereiro se cogitou o lançamento da revista no EELP. Mas nada oficial. Lembro que publiquei em minha coluna a notícia, mas sem confirmação oficial. É falha a ausência da revista, sim – e grave – da gestão municipal, não do encontro.

Adianto que, pelo menos a revista está em processo – lento – de confecção, ainda sem nome ou equipe (editores e repórteres) definido para esta nova publicação. Mas, a partir do primeiro número e da regularidade das publicações, será já um atrativo à segunda edição do EELP. Torço para que os prêmios literários também possam integrar a programação, assim como lançamentos de livros publicados pela Lei Djalma Maranhão, ainda inerte para este propósito.

É isso. E, mesmo com assinatura da Lei de Promoção à Leitura Literária (por que não Promoção à Literatura, ou simplesmente à Leitura?), durante o evento, termino com as palavras do jornalista potiguar radicado em Brasília, Gustavo de Castro, publicadas no Substantivo Plural de Tácito Costa: “Falta em Natal e no RN política pública para o livro e a leitura, sem isso não adianta esses encontros. Eles (os encontros) deveriam celebrar um período de investimento no setor e não o único investimento no setor”.

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