quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pornofonia poética


Irreverência de Cabrito encontra hoje o rock da banda Os Grogs em show para maiores de 18

Difícil retratar a obra musical de Cabrito sem descambar em uma matéria censurada para leitores maiores de 18 anos. Da mesma forma é complicado delimitar a pornografia poética, escrachada e até imoral de Cabrito, da música chula, de palavrões e frases soltas em melodias inacabadas. O personagem criado pelo compositor e músico Tertuliano Aires, após o histórico show Neste o Trabalhador Goza, realizado no cabaré Vero’s Bar no Dia do Trabalhador, se junta hoje à banda Os Grogs para mostrar o repertório do primeiro CD Os Nominhos que “Ela” Tem.

O álbum de estréia de Cabrito oferece 13 canções compostas pelo próprio com arranjos e execuções do maestro Franklin Nogvaes. O gênero musical é pornografia ritmada pelo reggae, xote, brega, samba, cultura rural e até harmonias inspiradas nos cantadores de viola. A música de abertura se chama A cagada da minha prima. Em seguida, o título homônimo do CD. Corno pescada vem depois e a censura precavida proíba os demais. Todas as músicas verdadeiras crônicas liberais e autênticas dos ditos e causos de mesa de bar e papos informais de esquina. “Coloco de forma poética o que ouço por aí”, diz Cabrito.

A tradição do erotismo (mais sutil) ou da pornografia (mais crua) nas artes vem de séculos. O sexo, a cópula, o acasalamento, o “fazer amor” e outras denominações que nem de longe chegam às variações dos “nominhos que ‘ela’ tem” sempre permearam o universo das artes. Marquês de Sade, Nabokov, Bocage, na literatura; Picasso e Di Cavalcanti são exemplos da retratação do ato sexual e dos corpos nus nas artes plásticas; o erotismo do cinema francês; e na música... bom, temos Cabrito: menestrel da cultura mais libertina, cronista dos pensamentos libidinosos, poeta obsceno sem status nem estátuas.

Um trecho de uma marchinha carnavalesca chamada Meia sola: “Eu vou botar meia sola no pau/ eu quero é cair na putaria/ na festa do carnatal, comer dois priquitos todo dia// Mandei plastificar a chibata/ não quero me engatar com camisinha...”. O desenrolar da canção é impublicável, repleto de monossílabos alheios e termos ainda desconhecidos da lusofonia. Aos adeptos do som, as sessões de rock e putaria começam a partir das 23h no Castelo Pub (em frente ao Estádio do ABC, na Rota do Sol). Ingressos a R$ 10 (na hora) ou R$ 8 (no Sebo Balalaika, na Rua Vigário Gonçalves Ledo, Centro).

Cabrito x Tertuliano Aires
Quando Tertuliano Aires se despe das vestes de Cabrito ele incorpora o brega da Balalaika Brega Band – banda já com oito anos de estrada e serviços prestados à boa música brega. Retrocedendo a fita mais um pouco, se vê Tertuliano no bairro de Lagoa Seca, em meados da década de 70. Perto de sua casa os “cachorros marginais” da banda roqueira Alcatéia Maldita iniciavam o rock puro e distorcido nos palcos natalenses. Por ali, o “Terto” se fez músico e compositor, junto a Raul Cruz, Fernandão, Nagério, Edinho, Militança, João de Deus e outros.

Mas, foi somente ao conhecer a cantora e compositora também potiguar Khrystal, que sua obra passou a ser mais difundida. Outro intérprete de suas composições é o cantor e compositor assuense Carlos Bem. Com o Balalaika ou compositor de MPB, Tertuliano fez apresentações no projeto Seis & Meia, no Domingo na Praça, em diversas cidades do interior potiguar e alcançou os primeiros lugares em edições do Festival MPBeco, com a música Jesuíno (parceria com Zé Fontes), e Tarde (composta com Nagério).

O personagem Cabrito vem desde 1997, quando Terto escutou uma fita K7 de paródias pornôs de clássicos da MPB e resolveu copiar a ideia. “Franklin Nogvaes me disse: ‘Rapaz, você vai criar problema com direito autoral. Compunha suas próprias letras que eu faço os arranjos’. Desde então coleciono causos do dia-a-dia, como um cara que me disse gostar de ser corno porque tinha mulher gostosa. Eu escrevi: “Eu gosto de ser corno. Dividir prato de filé com vizinho é melhor que comer merda sozinho...”.

Os Grogs
Os Grogs é uma das bandas do autêntico rock mais antigas em atividade de Natal, formada em 1999 com o nome inicial de Van Grogs. O repertório passeia pelos clássicos dos Beatles, Rolling Stones, Creedence, entre outros. Em 2008 ganhou os prêmio de melhor música, melhor intérprete e melhor arranjo no MPBeco, com a canção Natal canibal (Moisés de Lima e Graco Medeiros). A música é até hoje a maior vencedora de prêmios do Festival. A banda é formada hoje por Giancarlo Vieira (voz), Felipe Rebouças (guitarra), Paulinho (voz e teclado), Moisés de Lima (contrabaixo e vocais) e Tony Macarthy (bateria).

Show – Os nominhos que ela tem
Quem: Cabrito e Os Grogs
Onde: Castelo Pub (em frente ao Estádio do ABC, Rota do Sol)
Data e hora: hoje, a partir das 23h
Ingresso: R$ 10 (no local) e R$ 8 (no Sebo Balalaika, Rua Gonçalves Ledo, Centro)
Produção: Nelson Rebouças

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
- A foto escura é deste blogueiro!

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