sábado, 6 de março de 2010

Infindáveis saudades e... desejos!


Escritor Raymundo de Sá lança livro hoje, na Siciliano – um convite às aventuras amorosas da meia idade

Infindável Saudade é o título do segundo livro de Raymundo de Sá. E denota também as nostalgias intermináveis daqueles homens saudosos das velhas paixões de um tempo ainda vivo nos porões da memória. A obra é um romance por excelência. A cada página, um punhado de palavras cavalheirescas e tiradas sacanas bem postadas, em fino requinte se espraia entre paisagens da Amazônia, mares de Paranaguá e o íntimo de seus personagens. E nesse mergulho pelas funduras abissais do amor, o mundo encontrado é cercado de sortilégios, aventuras sexuais e paixões que beiram a fantasia.

A solenidade de lançamento do livro será hoje, às 16h, na Siciliano do Midway. Quem comparecer verá um senhor disponível aos autógrafos, de 73 anos e alma jovial, nostálgico de tempos e romances vividos, ainda vigoroso e amante da mulher Elizabeth, estudante de Letras. Após ler o livro, verão que aquele senhor simpático, de olhar tristonho, é perfeitamente confundido com o protagonista Mauro, narrador não onisciente dos fatos do livro. Mauro é o que Raymundo viveu e quis viver; aquilo que foi e poderia ter sido – uma aventura fantástica, capaz de despertar desejos adormecidos.

A sensualidade é marca constante do livro. Os cenários amazônicos, a índia Potyra, o clima de desejo que perpassa cada página do livro alimentam expectativas do leitor e criam uma aura romântica em cada cenário minuciosamente descrito. O encontro de Mauro e Potyra, a primeira noite de amor, os desencontros e reencontros, traições, confissões, e o livro termina com um capítulo, literalmente, à parte. O leitor mais atento verá a ausência do capítulo 8 no índice que segue até o 10. O trecho foi relocado ao fim, já que o fato descrito seria impossível de acontecer se a linearidade do livro fosse obedecida.

Os cenários amazonenses são descritos com propriedade. Raymundo é manauara de nascença. Ronda o Nordeste há 28 anos, há sete em Natal. Conhece os palmos dos igarapés e terras ilhadas daquelas paragens nortistas. Ainda assim mergulhou em pesquisas para escrever o livro, como na linguagem tupi-guarani e fases da lua, temáticas recorrentes no romance. A filosofia integra a formação profissional de Raymundo e serve de alicerce à construção de encadeamentos bem arquitetados no enredo de Potyra – primeira parte do livro.

Raymundo parece amigo íntimo de seus personagens. Lê trechos do livro como quem observa e descreve a cena ao lado. E enquanto narra o tempo parece parar e só existem os personagens da Infinita Saudade do autor. Talvez seja esses gestos coloridos em meio ao cenário cinza, petrificado, o segredo de tais mergulhos sentimentais. “Eu desenhei a mulher ideal. Renata é aquele menina de 21 anos que qualquer homem queria ter. Aos nove anos ela entrou em coma. A família procurou os melhores médicos da França. Lá, ela tinha uma preceptora, contratada no Brasil e responsável por ensinar-lhe italiano, alemão e inglês. Em mais alguns anos, Renata era poliglota, linda, pianista...”.

Renata povoa a segunda parte do livro, narrado já em Curitiba após decepções amorosas de Mauro e fuga para outros mares. Nos ares do Sul, Mauro se utilizava de “bóias de salvação” ou das “senhoras das letras” – prostitutas contratadas em anúncios de jornais sob codinomes das letras iniciais: M21, P25... Isso até achar o amor ardente e quase proibido da jovem aluna Renata. “Ficamos entre os últimos daquela leva de turistas que entravam na capela Sistina. À medida que andávamos, Renata segurava o passo e roçava o seu seio direito no meu braço esquerdo. Eu sabia do significado do gesto e de suas possíveis conseqüências (...)”.

Estreia literária da Funcarte
Afora a riqueza romanceada da trama, o livro de Raymundo guarda outro mérito: foi a primeira obra literária editada com apoio da Lei Djalma Maranhão de Incentivo à Cultura, na atual gestão da Capitania das Artes. A captação dos recursos foi junto ao hospital Promater, que também promete patrocinar o livro Contos do Que Importa, praticamente pronto e com lançamento previsto para julho ou agosto, também com inventivo da Lei Djalma Maranhão. Infindável Saudade reúne o primeiro romance escrito por Raymundo – Potyra – e o segundo, As Rosas dos Dias Três. Um terceiro livro, intitulado Evelyn, completará a trilogia.

Raymundo talvez tenha sido o único poeta residente no Nordeste a integrar a antologia poética publicada em Portugal. Teve seu livro de poemas rejeitado pela comissão da Fundação José Augusto. Uma das cinco selecionadas no livro se chama Se Explicado Amor Não Foi. Segundo Raymundo, o amor é inexplicável. “Se alguém disser que ama pela beleza, pela simpatia, pela simplicidade, inteligência, não é amor, ele já explicou o que é: admiração. Amor não se explica”, diz o autor.

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