segunda-feira, 15 de março de 2010

E o teatro vira uma farsa…


Clowns de Shakespeare e grupo Ser Tão Teatro trazem hoje clássico de Ariano Suassuana para Natal

Cada um tem o Shakespeare que merece. E o nosso, com toda a pompa, é Ariano Suassuna. Ou melhor: é a trupe do Clowns de Shakespeare encenando a primeira peça do paraibano autor do Auto da Compadecida e Pedra do Reino, chamada Farsa da Boa Preguiça. A apresentação será realizada hoje no Largo Dom Bosco, em frente ao Teatro Alberto Maranhão, na Ribeira. A apresentação, gratuita, tem início às 18h.

Farsa da Boa Preguiça foi a primeira peça de Ariano Suassuna montada pelo Teatro Popular do Nordeste em parceria com Hermilo Borba Filho, em 1960. A nova montagem é também parceria - inédita no Nordeste - entre o Clowns de Shakespeare e do coletivo paraibano Ser Tão Teatro. O espetáculo, itinerante, já foi visto por mais de 2.400 pessoas só na Paraíba e Ceará.

“Ir para Natal, foi literalmente ‘invadir’ a casa dos Clowns. Trabalhamos uma média de dez horas por dia no Barracão (sede do Clowns), conhecendo a rotina do grupo, o espaço e a equipe deles. O Clowns consegue juntar um incrível profissionalismo, adquirido ao longo de todos esses anos de estrada (15 anos), a uma atmosfera extremamente familiar e aconchegante. Rapidamente estávamos nos sentindo em casa, e fazendo parte dessa família”, revela a diretora do Ser Tão Teatro, Christina Streva.

E disse ainda: “O Clowns sempre foi uma referência para o Ser Tão. Ao longo da nossa ainda recente trajetória (3 anos), fomos buscando formas de nos aproximar cada vez mais desse grupo que é uma verdadeira pérola do teatro brasileiro. Quando ganhamos o edital da Eletrobrás, decidimos convidá-los para compartilhar o projeto conosco”, disse.

Segundo Streva, a encenação da Farsa da Boa Preguiça busca o espírito da Commedia Dell’Arte através do improviso, da música ao vivo, da alegria e da polifonia de estímulos típica das feiras do interior nordestino. “Nossa inspiração está no excesso - de cores, sons, texturas, nuances e dicotomias tão característicos da cultura popular nordestina”, conclui.

A peça
É uma comédia escrita com base em romances e histórias populares do Nordeste. A peça conta a trajetória de Joaquim Simão, um tipo “amarelo” nordestino, cujas proezas são versos, preguiça e mulher. Casado com a apaixonada Nevinha, o poeta é vizinho de Aderaldo Catacão e de sua pseudo-intelectual esposa Clarabela, típicos representantes da burguesia capitalista.

Através de diversas reviravoltas e causos, orquestradas por um trio divino, composto por um cristo, um arcanjo e um santo, a trama vai cruzando o destino dos quatro personagens para mostrar que o único e verdadeiro objetivo do trabalho é a preguiça que ele proporciona depois. Enriquecendo a trama, três demônios utilizam vários disfarces e artimanhas para dificultarem os planos do trio.

A Farsa da Boa Preguiça é um festejo a cultura popular brasileira, uma homenagem ao nosso povo e revela toda a dimensão mítico-religiosa de nossa cultura. O projeto tem patrocínio da Eletrobrás e integra o prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, e o Prêmio Funarte de Artes Cênicas na Rua. Foi o único do Nordeste a conseguir o feito.

Os grupos reúnem uma equipe de mais de 20 profissionais vindos de todo o Brasil, sob a direção da carioca Christina Streva e do paulista Fernando Yamamoto. Também participam do projeto o potiguar Marco França na direção musical, os cariocas Carlos Alberto Nunes e Daniele Geammal, assinando cenário e figurino, a caracterizadora mineira Mona Magalhães, a preparadora corporal pernambucana Carla Martins e o iluminador potiguar Ronaldo Costa.

A estréia nacional do espetáculo foi no dia 27 de fevereiro no Ponto dos Cem Réis, em João Pessoa. O Rio Grande do Norte é o terceiro estado onde o espetáculo é encenado. O segundo estado visitado foi Ceará. Daqui, a trupe segue para Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia, totalizando 23 apresentações gratuitas, sendo uma na capital e duas no interior de cada estado. No Rio Grande do Norte, o espetáculo já foi apresentado em Mossoró e Assu.

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal

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