quarta-feira, 17 de março de 2010

Rezando o terço de Pedro Costa


Por Marcílio Amorim

Não sei como essa notícia não foi parar nas machetes dos jornais e blogs da taba poti: "Homem dá à luz a terço católico". A performance do artista Pedro Costa (amigo conhecido de minha adolescência como Pedro Pan) na abertura do 13º Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal, no dia 12 de março, que fez brotar de seu orifício anal um terço religioso, foi a azeitona do empadão que partilho em santa ceia com vocês.

A não publicada manchete do dia, acima entre aspas, também poderia ser apontado como um milagre pelos mais fervorosos (Como aquelas imagens que choram lágrimas de mel no interior da vida). Afinal, não é todo dia que um homem tira do rabo um colar sagrado! Mas no fim das contas: o que esperam os artistas potiguares a não ser por um milagre?

O "milagre do terço cagado no salão de artes visuais" se espalhou pela net em matéria repercutida pelos meninos ótimos da Revista 14 (www.revistacatorze.com.br), e chamou a atenção dos tuiteiros, com piadinha dos engraçadinhos e tímidas críticas dos mais puristas.

Que não seja do tipo que se retira de dentro do rabo, mas só mrdmo um milagre pode salvar a cultura potiguar! Milagre, diga-se de passagem, é quando pedimos a um santo, a uma Deus, a um força maior que nos ajude em um momento de muita dificuldade, desordem e de caos total, em estado irreversível.

O meu estranhamento não parte de cima, lá na outra ponta (onde tudo parece muito bem e ninguém reclama de insatisfação), mas sim de baixo, de quem recebe cada paulada e castigo em nosso teatro, dança, artes plásticas, literatura, música... Os artistas são os maiores prejudicados com a inercia das políticas culturais; da má gestão dos (poucos) fundos destinados ao fazer artístico dos artistas deste estado; da degradação, depredação e quase extinção da nossa memória artístico-cultural; dos espaços de apresentação cada vez mais escaços; da falta de público formado; da inexistente política de fomento à cultura; do avanço cruel dos esquemas dos exorbitantes Autos (que gastam milhões em espetáculo de pouca contribuição artística para quem faz e para quem assiste); do atraso artístico-intelectual de nossas crianças e da falta de estímulo ao consumo do que é da terra.

Mas mesmo assim ninguém faz nada! Dormentes, dormindo, doentes, calejados, dementes, parecem ter desistido. Parecem estar muito cansados! Como quem entregou os pontos e só espera! Um milagre talvez?!

Embora sua última e única esperança seja um milagre, o artista potiguar ainda não pariu um santo homem a ser seguido, como Maria fez com Jesus. Os fazedores da cultura potiguar esperam por um milagre mas não creem em santo algum! E já viu o que acontece nos casos de milagre sem santo, santo sem reza, reza sem santo...? Não dá certo!

Parece que quem encontrou mesmo o caminho dos céus foram os políticos potiguares, que enquanto não tem o palanque liberado e o horário eleitoral gratuito loteado pelos conchavos, aproveitam missa de sétimo dia, festa de padroeira, cultos, sessão espírita, afoxé, casamento, batizado, velório e enterro para fechar alianças e conquistar votos. Acendendo uma vela para Deus e outra para o Diabo! Sacrilégio!
Mas voltando a falar de cultura... Posso garantir que estamos encolhendo, dando ré, atrofiando, murchando, mediocrizando o maior motivo de orgulho de um povo: a sua arte! Está tudo errado!

Espero por uma saída, uma revolta, uma mobilização... Ou você (artista) quer passar a vida pobre, com pires na mão, fazendo arte para fazer pose, aparecer na capa do caderno de cultura, receber tapinha nas costas e continuar sendo o motivo de orgulho apenas da sua família e dos amigos mais chegados?! Tenhamos fé!

Santos do pau oco, charlatanismo explícito, dízimo loteado, bíblia de ponta-cabeça, demônios disfarçados, fedor de bosta no terço sagrado e continuamos acreditando em tudo, sendo enganados calados, aplaudindo absurdos, de joelhos e esperando algo que pode nos levar ao limbo ou pode nos fazer queimar nas piores fogueiras do inferno. A escolha é nossa! Vamos desfazer esse ebó! Alguém ai... ROGAI POR NÓS! Amém.

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