domingo, 28 de março de 2010

A vitória da ilegalidade


Vídeolocadoras sucumbem frente à pirataria e enxergam nas novas tecnologias a saída para sobrevivência

Em seis anos o número de locadoras de vídeo caiu quase 95% em Natal. As oito sobreviventes do naufrágio da legalidade frente aos “piratex” nadam contra a maré e se agarram a outros serviços para manter o comércio. O cenário é claro: a ilegalidade venceu o comércio legal. O mercado da pirataria – travestido de informal ou problema social – forçou a falência de cerca de 130 videolocadoras na cidade na última década. E embora pareça tendência o crescimento dessa prática criminosa, o surgimento de tecnologias como o blue ray e o 3D prometem inviabilizar a cópia pirata e reacendem a esperança de velhos comerciantes do ramo.

A queda no faturamento nos últimos seis anos – desde que o advento do DVD surgiu e facilitou a cópia pirata dos filmes – se aproxima aos 60% nas principais videolocadoras da cidade. O número de funcionários foi reduzido em aproximadamente um terço. O valor do aluguel dos filmes está congelado há dez anos em quase todas elas. E a redução da freqüência de jovens acende a luz vermelha para o futuro. Diante do cenário pouco promissor, comerciantes adotam novos critérios na compra dos filmes, procuram novos serviços para atrair o cliente e esperam pacientemente mais dois ou três anos para a chegada do blue ray.

Pizzaria, mini-conveniência, lanchonete e comércio de eletrônicos e equipamentos de áudio e vídeo são algumas das alternativas encontradas pelos donos de videolocadoras para sobreviverem por mais tempo. Fátima Alves está à frente da Videolaser há 20 anos. A locadora detém o maior acervo de filmes de arte da cidade – gênero pouco explorado pelo mercado pirata. Ainda assim, a queda no faturamento se aproxima dos 70% nos últimos seis anos. Fátima demitiu seis funcionários e mantém quatro. Diz que o momento é de selecionar os filmes a serem comprados para evitar prejuízo em compra equivocada, de pouca demanda.

“O preço de um filme lançado no mercado gira em torno de 120 reais. O que eu e muitos estão fazendo é esperar 45 dias para comprar pela metade”, confessa Fátima. No outro lado do ringue, a vantagem da prática criminosa em comercializar o filme muitas vezes antes do lançamento nos cinemas. “E ainda seleciono mais o filme que compro. Hoje vou mais pelo diretor, pelo ator para saciar o pedido dos clientes. Esses filmes de temporada o cidadão encontra mais fácil na pirataria”. Fátima lamenta que mesmo os filmes de arte (em maioria, europeus) tenham registrado queda na procura. Mas junto com o segmento de filmes eróticos, manteve boa demanda.

Fátima culpa a “péssima” fiscalização e a falta de tempo das pessoas pela baixa na loja. “Natal talvez tenha a pior fiscalização do país. Turistas e clientes da loja reclamam que a pessoa é quase forçada a comprar porque em cada esquina tem oferta de DVD pirata e ninguém faz nada”. A comerciante lembra a iniciativa da prefeitura em fechar o comércio pirata no camelódromo da Cidade Alta, quase vizinho à sede da prefeitura. “Intimaram, depois concederam prazo, reaprazaram e desistiram. Estão lá do mesmo jeito. Uma cliente minha, francesa, fica impressionada com o volume da pirataria em Natal. E com o comércio ilegal ao lado, muitos deixam de freqüentar a locadora”.

A nova era do blue ray
“Quando comecei, em 1984, o aluguel do filme em VHS equivalia ao valor da entrada dos cinemas Rio Grande e Nordeste. A entrada para o cinema hoje vale 12 reais e o aluguel do filme gira entre dois e cinco reais. Aluguel de DVD não dá mais lucro. Se eu continuasse apenas com isso já teria fechado”, lamenta Ronaldo Miranda, dono da Canal Um. Desde o início Ronaldo vislumbrou o crescimento da pirataria e mergulhou no rio calmo do comércio dos equipamentos de áudio e vídeo para compensar as primeiras quedas de lucro com a pirataria em VHS. E já pensando à frente, já começou o aluguel de filmes em blue ray, adequados em televisões com alta definição ou full HD.

A estimativa de Ronaldo é de que em menos de dois anos o blue ray mine a cópia pirata de filmes. “A mídia (o disco virgem, com capacidade de 25 GB, enquanto o DVD tem capacidade para 4.6 GB) do blue ray custa entre 28 e 35 reais. Se for de dupla camada são 285 reais. É inviável para a cópia pirata. Eles precisariam de uns três anos para chegar a um preço comercial. Mas nesse tempo, já terá surgido a tecnologia em 3D (disco com capacidade para 500 GB), que será impossível a reprodução. E o cinema já se iniciou nesse mercado. Filmes em 3D representarão a nova era da indústria do cinema”, opina Ronaldo.

A própria evolução tecnológica das televisões também representa importante arma contra a pirataria. “A imagem de um DVD pirata em uma TV de alta definição ficará péssima, pior do que já é. Se for a TV com LED, pior ainda. Fica uma imagem lavada porque a tecnologia só aceita imagem de alta definição para preencher os espaços”. Mesmo com a promessa de uma volta das cinzas, Ronaldo afirma que o aluguel de filmes deixou para sempre de ser negócio promissor, como foi no início. “Mesmo com o fim da pirataria, há também o download gratuito na internet, embora o tempo para baixar um filme em blue ray dure em média seis dias e com qualidade abaixo do esperado”. E conclui: “Acredito que o tempo das videolocadoras passou. Vivemos novos tempos”.

7 comentários:

  1. "A locadora detém o maior acervo de filmes de arte da cidade". Não detem não. Acho até meio óbvio e preguiçoso esse acervo da Videolaser. A de maior e melhor acervo é a Planeta Vídeo, que fica ali em Petrópolis, na Trairí com Campos Sales. Faltou dizer na matéria que aquela vendinha lá, a 7ª Arte, é um dos pontos de vendas de dvd's piratas que mais prejudica uma boa locadora, e só quem vai lá comprar nesse comércio ilegal é gente de muita bala na agulha.

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  2. Pois é a 7ª arte é um dos antros de pirataria de Natal, mas fica praticamente do lado da prefeitura e alguém faz alguma coisa? Não! E digo mais, é capaz de algum político ter um batalhão de vendedores de dvd´s piratas. Aqui em Natal, não duvido de nada!

    Ah sim, Ronaldo, para baixar um Blue Ray leva menos de um dia, a cabotelecom disponibiliza velocidade de 10mb, então é rapidinho...

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  3. Carlos, mas pagar 10MB, salvo engano, são R$ 160. Será que compensa? Mas é uma alternativa.

    Inté!

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  4. Rapaz, eu não pagaria! Mas para quem vai piratear "vale a pena".

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  5. Porra, tu foi mais rápido! Tava com uma pauta dessa na cabeça faz tempo. Ia fazer pra Catorze. Mas a agenda lotada acabou me atrapalhando.

    Sempre vou na Videolaser. Gosto demais dali. Me lembro que ano passado aluguei uma fita VHS só porque não tinha em DVD. Era A Natureza Quase Humana, roteiro do Charlie Kaufman.

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  6. Pois é, perdeu para Sérgio! Tem que ser rápido mané! Depois fica dando desculpa!

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  7. A geração de hoje já nasceu sem lojas de CDs é com Internet com banda larga de 10Mbits ou mais provavelmente nem sabe o que e um vídeo locadora. No Torrent e possível baixar um filme completo com mais de 5.5 GB em 5 minutos.
    Desculpe mais e o fim das videolocadoras assim como aconteceu com as lojas de CDs. Os donos demoraram a esboçar uma reação E não acompanharão a mudança do mercado. provavelmente hoje em dia não tem mais como reverter esta situação. Até os piratas chegaram ao fim.

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