quinta-feira, 22 de julho de 2010

Uma flor de Liz


Intérprete potiguar radicada no Rio de Janeiro volta a Natal para gravar CD e abrir temporada de shows

Em tempos de Lady Gaga e cultura pop exacerbada, vozes clássicas desmancham nos ouvidos como manteiga do sertão na macaxeira. Se a Bossa Nova e o Tropicalismo viraram gêneros musicais ultrapassados e cafonas, e o brega hoje é cult, a intérprete Liz Rosa mostra releituras modernosas das músicas de Tom Jobim e Gilberto Gil em timbres jazzísticos e técnicas peculiares de interpretação.

Até chegar ao palco dos bares cariocas, a cantora soltou as amarras do provincianismo, quebrou o cadeado do vicioso circuito de bares e casas de show de Natal e mostrou à cariocada que o potiguar também tem MPB no pé. Com repertório entre o clássico das saudosas canções e os arranjos e improvisos vocais modernos, nos últimos dois anos Liz Rosa tem buscado espaço no show business carioca.

A cantora volta a Natal para gravar um CD e estrear hoje uma seqüência de quatro apresentações no Restaurante Veleiros, sempre às quintas-feiras. Serão shows temáticos, abrindo com Retrato em Branco e Preto – homenagem a Tom Jobim e Chico Buarque. Próxima semana, homenagem a Elis Regina. Na seqüência, jazz com repertório de Joyce, Toninho Horta e Guinga. E para encerrar, uma jam session.

A cantora de apenas 24 anos já canta profissionalmente desde os 16 anos, quando o produtor Zé Dias oportunizou o início da carreira da jovem diva no projeto musical do Seaway. Mesmo adolescente, o repertório “careta” de João Gilberto e Cia. já explodia na voz de timbres médios da cantora. O rótulo de musa da música pop, sucesso das paradas e recordista na venda de CDs fugia das pretensões de Liz Rosa.
O caminho mais árduo também exigiu melhor postura vocal e repertório personificado.

Das aulas do curso básico de canto na UFRN, ela aproveitou apenas técnicas de aquecimento de voz, respiração e impostação de voz. O canto popular exigiu de Liz Rosa personalidade. E a cantora limpou a poeira do classicismo das canções bossanovistas com o brilho do jazz e improvisações vocais de impressionar qualquer garota de Ipanema.

A aventura de uma nortista nos palcos do Sul partiu apenas de contatos com o proprietário do Vinícius Bar, no Rio de Janeiro. Iniciou temporada de shows no bar e aos poucos estabeleceu uma rede de contatos como o produtor Miele e o músico Hélio Delmiro (guitarrista de Elis Regina) para shows em outros locais. “No Rio de Janeiro consegui o possível para um intérprete sem CD”.

CD Liz Rosa
De volta a Natal, a “flor de Liz” já iniciou a gravação do CD nos estúdios Promidia, do produtor Eduardo Tauffic, também responsável pelos arranjos das dez faixas do álbum. Entre composições de Djavan, João Bosco, Joyce e outros clássicos já presentes nos shows de Liz Rosa, também composições inéditas, como o poético título Hora e Vez de Solidão, do instrumentista, arranjador e compositor bossanovista Durval Ferreira.

“Essa música foi encontrada entre fitas K7 perdidas na casa dele. Nunca foi gravada”, ressalta Liz Rosa, que também interpreta composições da amiga potiguar Khrystal e de Roberto Tauffic, além da canção também inédita Quando o Lampião Apaga, do jovem compositor carioca Pedro Ivo. “A música é um baião, mas vai virar outra coisa no CD”, adianta a intérprete.

Cenário carioca
A concorrência musical acirrada e o profissionalismo de músicos e produtores no Rio de Janeiro provocaram novos conceitos na intérprete potiguar. “Minha postura no palco, meu sotaque, minha entonação... ficou tudo menos. E descobri que quanto menos, melhor”, destaca Liz Rosa. “Vi o quanto precisamos nos profissionalizar. Acho que falta a Natal um ar de metrópole”, opina.

Afora o “admirável mundo novo” dos palcos cariocas, outra barreira enfrentada por Liz Rosa foi o sotaque. “É permitido a Khrystal o sotaque regional. Meu repertório exige outra postura. É mais agradável uma voz neutra. E isso eu também tive que aprender”, diz a cantora, admirada com o compromisso de produtores e donos de casas de shows com os cachês, ensaios e passagens de som. “Parece pouca coisa, mas isso faz a diferença”.

* Matéria publicada hoje no Diário de Natal
Entre idas e vindas ao Rio de Janeiro nos próximos meses, Liz Rosa já agendou para setembro um show especial intitulado Todas as Mulheres do Mundo, junto com Khrystal e Tânia Soares, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel. No repertório, apenas composições de divas da MPB interpretadas pelas três, em duos ou performances individuais.

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