quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Entre a vanguarda e a tradição

No Diário de Natal
matéria de hoje

Ensaísta Moacy Cirne questiona a indústria cultural em livro lançado hoje na Feira Literária do Seridó

Nos primeiros anos da década de 80, Moacy Cirne discutia a vanguarda e a indústria cultural com o olhar voltado à semiologia materialista da base literária. Quase 30 anos depois, os ensaios do escritor permanecem atuais e receberam edição fac similar com lançamento hoje na Feira do Livro do Seridó. A Biblioteca de Caicó (Sebo Vermelho, 94 pág) confunde o leitor pelo título, remetente a uma compilação de livros ou algo do tipo. No subtítulo, a explicação reveladora: “Ensaios sobre vanguarda, semiologia e cultura de massa”.

No livro, Moacy se vale do conhecimento em cinema, quadrinhos, poesia experimental, ficção científica e da semiologia para traçar paralelos, comparações e discussões mais das vezes filosóficas a respeito da crítica teórica. Já no primeiro capítulo – Uma Semiologia da Fome –, Moacy polemiza o Cinema Novo e abre possibilidades à estética da fome a partir do clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. E enfatiza: “Todas as estéticas são burguesas! Uma possível estética da fome talvez exista equivocadamente: a estética, como tal, é o refúgio dos idealismos, mesmo quando o idealismo é recusado pelos intelectuais de esquerda (...)”, escreveu.

A edição original do livro foi publicada em 1983, pela editora José Olympio. “São ensaios escritos entre a segunda metade da década de 70 e o início dos 80. De uma certa maneira permanecem atuais. É um livro mais crítico do que ensaísta, de uma fase minha mais teórica em que eu lia muito a respeito do estruturalismo. Hoje eu já sou mais ensaísta”, pondera Moacy. As críticas estão baseadas em literaturas da época. E ainda assim retratam um universo tão atual quanto a realidade presente das esquinas de qualquer cotidiano, sobretudo nas calçadas das fundações culturais.

“Em termos de vanguarda, só a vanguarda produtiva nos interessa: a vanguarda como intervenção política, cultural e artística no interior da sociedade estruturada como um todo articulado – a vanguarda como geradora de leituras produtivas, oposta aos vanguardismos assimilados/ideologizados pelo sistema e até mesmo pela cultura de massa. E assim como é possível falar em vanguardas políticas, é possível também falar em vanguardas artístias ou (anti)literárias, que se distanciam em gênero, número e grau de qualquer modalidade de populismo literalizante, marcado ou não pelo realismo socialista”, escreveu Moacy no capítulo “Da Vanguarda produtiva à semiologia materialista”.

Um comentário:

  1. Moacy e Sérgio, a poesia política é necessária.Sempre foi, sempre será.Pouco importa a forma.Segue, pois, o meu rondel contra o Serra.Espero que gostem.Abraços.

    O SORRISO INDUSTRIAL DA MOTOSERRA

    em memória de Chico Mendes

    O sorriso industrial da motosserra
    rói o mais leve sonho das esquinas.
    Sua manada privada dos sem crinas
    patina em uma pátria óssea que aterra.


    Em seu kit letal, ódio e vacinas,
    em suas unhas vorazes - terra e terra.
    O sorriso industrial da motosserra
    rói o mais leve sonho das esquinas.


    Alheio, ao léu, comanda, estrui e serra
    e verga, à modo da árvore que assassina.
    Em estojos de culpas se encerra
    e nas óbvias lições que a si doutrina.


    O sorriso industrial da motosserra.


    Jarbas Martins

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