segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tropa de Elite e as eleições


Por Ricardo Calil
no Último Segundo

Neste momento, parece que só existem dois assuntos empolgantes no Brasil: eleições presidenciais e “Tropa de Elite 2″. Mas até que ponto um pode influenciar o outro? Será que “Tropa” pode ter interferência significativa no voto dos eleitores? E, se tiver, qual candidato será mais beneficiado?

O filme é complexo e, portanto, as respostas também o são. Ou melhor, o filme se baseia em algumas dualidades muito simples que tornam as análises sobre um tanto mais complicadas. Há o policial bom e o mau, o jornalista bom e o mau, o político bom e o mau.

A princípio, o herói mais impoluto de “Tropa 2″ é um político de esquerda, que denuncia a corrupção policial: Diogo Fraga (Irandhir Santos), completamente inspirado em Marcelo Freixo, que acaba de ser reeleito deputado estadual pelo Rio. E, neste novo filme, o capitão Nascimento entra em crise e coloca em xeque a idéia de que o combate ao tráfico vai acabar com a violência – grosso modo, uma tese cara à direita.

Isso significa, então, que o novo “Tropa” vai beneficiar a candidata do governo? Não. Porque tudo leva a crer que existe uma dissociação entre o que o filme diz e o que o público ouve. Já aconteceu no primeiro filme, em que o torturador de bandidos Nascimento foi adotado como herói por boa parte dos espectadores. O processo continua agora: apesar da falência de suas crenças, o personagem novamente é aplaudido como justiceiro, desta vez por espancar políticos. Nascimento é o indivíduo que enfrenta o sistema. Alguém que pode ser eleito como representante da turma que é “contra tudo que está aí”. Nesse sentido, o filme beneficiaria mais o candidato de oposição.

No Twitter do cantor Léo Jaime, por exemplo, há indícios de que a suposição acima tem fundamento. Alguns de seus comentários: “Torço para que os eleitores de Dilma vejam Tropa de Elite e reflitam”. “Mandar o filme de Lula para o Oscar? O povo aplaude é outro filme, bando de puxa-sacos!” Um de seus seguidores reforçou: “Tropa de Elite 2 é dever cívico! Tinha que passar em rede nacional na véspera do segundo turno!!!” É um exemplo de reação oposicionista de uma pessoa célebre. Houve milhares de reações semelhantes vindas de anônimos.

Não há teoria conspiratória: José Padilha não fez um filme para mudar o resultado da eleição, até porque decidiu lançá-lo depois do primeiro turno – e, até outro dia, ninguém sabia se haveria um segundo turno.

Mas isso não quer dizer que candidatos e eleitores/espectadores não possam abraçar “Tropa 2″ como uma comprovação de seus discursos.

No debate do último domingo na Band, primeiro final de semana do filme em cartaz, a primeira pergunta de Serra a Dilma foi sobre segurança pública, sobre a falta de combate ao tráfico de drogas e armas, sobre a necessidade de criação de uma guarda nacional. Foi uma coincidência?

Até a data da eleição, “Tropa 2″ provavelmente terá sido visto por mais de 10 milhões de brasileiros – entre o público dos cinemas e o dos DVDs piratas. Se algum candidato conseguir se sintonizar ao discurso do capitão Nascimento (ou ao que as pessoas entendem ser o discurso do capitão Nascimento), talvez a importância do filme numa eleição para presidente que promete ser muito disputada não seja desprezível.

É curioso pensar que no começo do ano as pessoas se preocupavam com o peso político de “Lula, o Filho do Brasil” – ignorando o fato de que um fracasso artístico e comercial não poderia ter esse tipo de relevância.

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