quarta-feira, 7 de julho de 2010

Do preço dos livros

Por João Ubaldo Ribeiro
Durante o I EELP

"Nós somos um país que não sabe ler, não aprende a ler, não gosta de ler. E tem dinheiro pra comprar um livrinho ou dois, sim, a não ser em caso de pobreza absoluta, de miséria, claro, mas a classe média tem. Quem compra CD está exercendo o seu direito de ter uma preferência. “Eu prefiro o CD que não me dá trabalho, entra pelos meus ouvidos...”. “Toda arte aspira a condição da música”, dizia Schopenhauer, ou seja, toda arte aspira ao acesso imediato que a música dá: a acessibilidade do ouvido. A literatura requer trabalho. É preciso, quer dizer, trabalho esse que se transforma, pra quem tem hábito de ler, uma coisa prazerosa; deixa de ser trabalho. Mas no começo é trabalho. E não um trabalho horroroso, como esse a que eu me referi, de autopsiar livros. Mas um trabalho de aprender as convenções da narrativa literária; aprender como a língua pode ser rica, uma fonte expressiva e inesgotável de confronto, de absorção da realidade. A arte é uma forma de conhecimento. O método científico é incapaz de conhecer uma realidade que escapa à nossa capacidade de percepção. Por isso, o homem precisa de música. Se a técnica substituísse a arte não haveria mais pintura, partiria direto pra fotografia. A pintura é uma maneira de ver o mundo; é uma maneira de mostrar sensibilidade em relação aquilo que nos cerca. Mas nós não aprendemos isso na escola. Nós aprendemos a ter medo dos textos, principalmente dos clássicos. Eu espero ter respondido pelo menos parcialmente a pergunta feita sobre preço de livros".

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