sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ainda o 1822 e a independência mal-cheirosa

Marcos, vou abrir lacunas bacanas para ler a sua aula. É que pelas 40 e poucas páginas que li do 1822 de Laurentino Gomes, além da desmistificação do quadro de Pedro Américo, outro fato merecedor de ressalva é a contextualização da independência.

Primeiro, o Brasil foi dos mais atrasados da América. Foi dos que mais prolongaram o tráfico negreiro. Gozado que lembro de professores de história negando ensinos do ano anterior de que negros não eram preguiçosos, nem índios eram complacentes com a Colônia. Quer dizer, só esse fato mostra contradições do que nos foi ensinado.

E outra: os Estados Unidos e outros poucos países de que tenho notícia, armaram suas independências travando lutas. A do Brasil foi totalmente melancólica e provocada muito mais pela pressão portuguesa. Nada de manifestação popular.

Não sou antropólogo, e claro que heranças genéticas partem de bem antes. Mas essa melancolia e outros inúmeros fatos da história política e social brasileira explicam alguma coisa da atual situação do país. O próprio cenário da proclamação da República, o Tenentismo, construíram a história atual.

O acontecimento de maior orgulho que tenho notícia foi os "caras pintadas" contra Collor. Nossa revolta estudantil nos anos de "chumbo", foi brava, mas ineficaz, desarticulada, desorganizada. A Cuba vitoriosa mostra isso. Embora tenha se desavalado para caminhos igualmente ditatoriais.

Então, sinceramente, a história do Brasil é bonita pelas cores do papagaio. Pela carta de Caminha. Pela miscigenação que formou esse povo bonito, alegre até certo ponto; esse país vocacionado à democracia, e batalhador, mas pelo seu próprio lar, pelo seu próprio chão. A organização e conscientização popular ainda está longe. Vide eleição do tempo-hoje.

Um comentário:

  1. Caro Sérgio:

    Começando pelo quadro de Pedro Américo: ele é pura idealização, claro, como toda pintura acadêmica, que trabalha sobre inúmeras convenções poses, cores, luzes. Isso não significa má pintura necessariamente (Pedro Ame´rico era muito talentoso), apenas indica que estamos muito longe de uma estética com pretensões realistas.
    Discordo da avaliação sobre uma História do Brasil sem lutas. Existiram tanto combates visíveis (índios contra colonizadores, escravos contra senhores) quanto resistências e invenções cotidianas, inclusive no nível de negociações inesperadas - revoltas de escravos que cobravam determinados direitos no uso da terra, há documentação a respeito. Pegando a História do fim do século XIX em diante, que eu conheço um pouco mais através de pesquisa direta, fico muito impressionado com lutas como Canudos, Caldeirão, Revolta da Chibata, Revolta contra a Vacina Obrigatória, greves e mais greves... A luta contra a ditadura incluiu lances comoventes como o abaixo-assinado contra a carestia (um milhão de assinaturas recolhidas durante uma ditadura!), lutas por terra urbana e creches, greves contra a lei ditatorial.
    Não vale a pena romantizar a História do Brasil como um espetáculo de bravura. Mas existe também a romantização negativa - nada presta, tudo é medíocre.
    Benjamin valorizava potencialidades da História para lembrar que nem só quem venceu merece nossa atenção. Nesse sentido, os marinheiros que lutavam por direitos civis no governo Goulart e os trabalhadores rurais em luta por sua cultura são merecedores de todo respeito e carinho.
    E gosto também de nós: estamos aqui reclamando do existente e procurando outras saídas.

    Marcos Silva

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