sábado, 2 de outubro de 2010

Músicos pedem espaço nas rádios

No Diário de Natal
matéria de hoje

Os 14 CDs lançados esta semana ou as mais de 400 composições inéditas jogadas no mercado até o fim do ano por intermédio do Prêmio Núbia Lafayette, podem ser apenas o início de uma mudança de paradigma no cenário musical potiguar. Nos próximos dias, o coordenador do edital, o compositor Mirabô Dantas reunirá os músicos contemplados pelo Prêmio para visitarem rádios e mídias na tentativa de inserir a música potiguar na fechada e preconceituosa programação radiofônica da cidade.

Após dois anos em trâmite e em batalhas medievais contra o monstro da burocracia e o desconhecimento dos meandros da política de editais, o Prêmio lançou os 14 primeiros CDs dos 40 mixados até o fim do ano. São aproximadamente 170 músicas inéditas de compositores potiguares. "Agora é a vez de cobrarmos retorno. Esses trabalhos não podem morrer na mão dos músicos. As rádios precisam abrir espaço à música potiguar. Nesses 14 ou 40 CDs têm música adequada à proposta de qualquer rádio".

Cada músico recebeu a matriz do CD mais 100 cópias para distribuição, divulgação e venda. "É um incentivo. A ideia é que eles consigam mídia, shows, vendam o CD e produzam mais cópias, com nova capa". À maioria dos artistas desta primeira leva, o CD foi a estreia no mercado fonográfico. Caso de Dona Edite de Pium, desconhecida e dona de repertório de folclores romanceados. Ou do grupo de hip hop Nordestinato - o primeiro do país no gênero a gravar CD mediante apoio do poder público.

O CD contemplou ainda trabalhos das cantoras Tânia Soares e Lene Macedo, do grupo Jurubebas, o Coco de Roda Mestre Severino, Samir Bilro, dos experientes Antônio Ronaldo e Carlos Bem, quatro CDs de música instrumental: Catita Choro e Gafieira, Candeeiro Jazz, Quarteto Prisma e o sanfoneiro Zé de Cesário, além de releituras de clássicos e canções do nosso Dorival Caymmi potiguar, Chico Elion, a partir dos arranjos do filho e músico, Kiko Chagas.

O investimento no prêmio foi de R$ 186 mil. A oportunidade de premiação foi dada a todos. Foram 106inscritos selecionados por uma comissão formada pelo maestro Franklin Nogvaes; o maestro da Orquestra Sanfônica de Mossoró, Roberto; pelo jornalista Rafael Duarte; a pesquisadora Leide Câmara; e pelo produtor cultural Anderson Foca. Apenas músicos já contemplados em outros projetos musicais, via Lei de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo foram previamente excluídos.

Burocracias
Um dos selecionados, Samir Bilro, ingressou como primeiro suplente. E a exclusão de um dos escolhidos explica também o atraso para conclusão do edital. "Sofremos e aprendemos muito com um edital inédito. Nunca pensei em tamanha burocracia. Fizemos um processo só para os 40 contemplados. Quando um atrasa entrega de documentação ou tem problema com o fisco (dívida de IPVA, luz ou qualquer outra), trava o processo e todos são prejudicados".

Um dos músicos não conseguiu resolver problemas de dívida com a Receita decorrente de uma empresa aberta em Brasília. A exclusão obrigou abertura de novo processo, com nova publicação no Diário Oficiale mais atrasos motivos por aprovações, auditorias, vistas, análises e liberações. "O projeto é inédito. Houve erros. Artistas também enviaram informações erradas impossíveis de corrigir a tempo", justifica Mirabô.

Núbia Lafa, o quê?
Mirabô ressaltou ainda que o problema da logomarca também foi revisto antes, "mas a gráfica publicou com o erro". É que a homenageada pelo Prêmio, a assuense Núbia Lafayette, teve seu codinome escrito de duas formas no encarte padrão dos CDs: ambas erradas. Na Capa, com o emblema do edital, está "Prêmio Núbia Lafaiete". Na contracapa, "Núbia Lafayete". E o certo é Núbia Lafayette.

O suporte traz imenso emblema da FJA e o nome de cada contemplado na capa. Na contracapa, o que é o edital. No encarte, a página de abertura traz mais propaganda governamental. A segunda, as composições. A terceira, a ficha técnica. E a última, mais propaganda. Nenhuma linha sobre os artistas. Nem foto. "Erramos, mas é melhor errar fazendo. Agora, cada um pode corrigir, fazer nova capa... Vale o incentivo", argumentou Mirabô.

Incentivo
O lançamento dos 14 primeiros CDs aconteceu segunda-feira no Teatro Alberto Maranhão com apresentação de alguns dos contemplados. No palco, Pedro Bronx, do Nordestinato, falou aos presentes: "Lembrem que próximo ano pode haver novo governo. E a união da classe artística deve pressionar pela continuidade do projeto em 2011".

Para Kiko Chagas, o incentivo é importante - apesar "de a produção de um CD de Ivete Sangalo custar R$ 500 mil e o nosso ser R$ 140 mil dividido entre 40 artistas" - também pelo fator da união. "Seria interessante o envio desse material a grandes produtores nacionais", sugeriu.

E concluiu: "E espero também que o Prêmio agregue os músicos. Que sirva de interação e início de corporativismo para resultados mais concretos a médio ou longo prazo. Ainda há muita descrença na classe artística”.

2 comentários:

  1. Muito legais os temas das últimas três matérias sobre cultura que você postou aqui. (Só não sei se são de sua autoria).

    É bom saber que existem jornalistas que pensam.

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  2. Fala, Ramilla! Os textos do DN são meus. Quando outro colega escreve para o caderno de cultura do jornal, coloco o crédito. Da mesma maneira, quando o texto, matéria, resenha, é de outro veículo, coloco a autoria do veículo e do autor.

    Obrigado pelo elogio!

    Inté!

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