segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bate papo com Laurentino Gomes

No Diário de Natal
matéria de ontem

O jornalista Laurentino Gomes – autor dos Best Sellers 1808 e 1822 – retrucou as críticas do acadêmico Raimundo Pereira Arrais de que as metáforas e anacronismos usados nos livros para contar a história de um Brasil desconhecido à grande massa são “perigosos” ou “equivocados”. “Uso da técnica jornalística para tornar palatável a leitura a todos. Não escrevo para acadêmicos. Por causa do purismo técnico acadêmico, a história do Brasil fica inacessível para muitos. Os historiadores deveriam valorizar meu trabalho porque despertei o gosto pela história em adolescentes, na empregada doméstica que se sentiam intimidados pela leitura burocrática dos livros acadêmicos”, disse o jornalista. E foi com ele que o Diário de Natal conversou ao fim do debate, promovido no primeiro dia do evento – promovido pelo projeto Nação Potiguar, Scriptorin e Fundação Hélio Galvão, com apoio do Governo do Estado.

Entrevista – Laurentino Gomes

Seus livros mostram equívocos de uma história praticamente cristalizada no imaginário brasileiro. Qual a grande mentira da história do Brasil?
Agora você me pegou. São várias mentiras (pensa). Mas acho que em relação à independência há um pensamento de que foi pacífica, negociada. Mas muita gente morreu. E não foi no Rio de Janeiro ou São Paulo; foi no Nordeste, principalmente na Bahia, e por isso os fatos ficaram meio apagados. Esse Império que assumiu como se fosse um pai que a tudo acomodava, apaziguava, nada disso houve. A relação de dom Pedro com o pai, dom João VI foi muito conturbada. E essa idéia de um brasileiro condado, permanece. Houve muita divergência e confusão.

Quando o jornalismo fica mais próximo da história?
O tempo todo. Há a impressão de que são diferentes. O jornalismo testemunha e narra histórias todos os dias. Seja por causa de um acidente de trânsito, pela eleição da Dilma ou descrevendo a Flipipa. A diferença é que são informações mais fugazes, mais sujeitas ao erro. É da natureza da profissão. São fatos muito imediatos. O historiador ganha no aspecto da dimensão de tempo e pesquisa.

O jornalismo está cada vez mais próximo desse formato de contação de história mais extenso, do jornalismo literário, pelo menos nos jornais impressos?
Acredito que o jornalismo esteja em mudança de formato. A linguagem está mudando; o jornalismo, não. Na 2ª Guerra havia um letreiro na Times Square que dizia suscintamente: “O Japão foi bombardeado pelos Estados Unidos”. Não podia ser jornalismo de texto, ali. Agora, também lembramos de Truman Capote, Gay Talese. Hoje temos a Revista Piauí, ou mesmo na internet encontramos textos mais longos, mais densos. Por outro lado, temos a Veja Online com notícias mais rápidas... Então, acredito na mudança de formato e não de linguagem. Os jornais estão guardando as matérias mais trabalhadas para os cadernos de domingo. O jornalismo está sendo e precisa ser repensado.

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