Por Anderson Focano portal DoSol
Antes de mais nada quero deixar claro que esse editorial é para comemorar vitórias. Como não se empolgar com o que vimos e ouvimos nos últimos vinte dias na cidade? Para começar vamos lamber a própria cria: que edição magistral do Festival Dosol tivemos hein? Foram mais de 8.000 pessoas em todas as atividades, artistas inspirados, shows épicos, ótima estrutura em todos os palcos, novos parceiros, novas amizades e relevância cultural no nível máximo.
64 shows foram oferecidos, mais da metade gratuitos e todos com ótima repercussão. Pium, o nosso palco mais distante, surpreendeu com quase 1.500 pessoas nos dois dias por lá e com a comunidade participando em peso das atividades. Vai ser difícil fazer melhor, mas é uma meta boa a ser batida para as próximas edições.
Nem bem me recuperei da maratona de shows do Festival Dosol e voltei ao palco da Casa da Ribeira para assistir o show “No Ar” de Valéria Oliveira. Por lá só comprovei o que muita gente já sabe: Valéria não só é uma das maiores cantoras potiguares de todos os tempos como é hoje uma das melhores vozes do Brasil. Some-se a isso a extrema competência da sua produtora Monica Mac Dowell, sua equipe técnica, a monstruosidade virtuosa de Rogério Pitomba, Jubileu e Paulo Milton e aos já consagrados Eduardo Pinheiro e Wilberto Amaral (ambos do Megafone) dando show de som e vídeo.
Esse povo junto, concebeu um espetáculo musical irretocável. Realçando o que de melhor os artistas tinham para oferecer e deixando a Casa da Ribeira (lotada) incrédula.
Toca o telefone e um amigo fala do outro lado da linha: – Foca, gostaria muito que vocês viessem ver nossa estréia. Marco França, sublime tecladista e um dos maiores músicos dessa cidade. Lembro muito bem nos idos de 97 a gente brincando no estúdio, ele fazendo graça, usando o teclado para sonorizar a traquinagem. Lembro de ter dito: Marco, vá fazer teatro, você leva jeito. Parecia o prenúncio do que estaria por vir.
É 2010 e aqui estamos. Fiz minha primeira visita ao barracão dos Clowns de Shakespeare, casa de um dos maiores grupos de teatro do Brasil. Maior não só pelo que leva ao palco, mas pela seriedade e luta com que colocam a coisa para funcionar. Expediente diário de 14h às 20h, muito estudo, entendimento do funcionamento das leis de incentivo, editais e do mercado e, principalmente, excelência artística comprovada com a magistral apresentação do seu mais novo espetáculo, uma adaptação livre de Ricardo III.
O que me deixa mais feliz é saber que em algum momento dessa história toda Dosol, Valéria Oliveira e Clowns de Shakespeare se encontram mesmo que por caminhos totalmente diferentes. Nos deparamos com uma admiração mútua, sabendo replicar o que cada um tem de bom e construindo uma estrada sólida para a cultural potiguar. Estamos trilhando caminhos (muitas vezes) virgens, sem deixar que as “daninhas” culturais fechem nossa trilha para que mais gente possa passar. E é bom saber que além de nós, tem muitos outros agentes culturais nesta mesma estrada.
Os governos, fundações e atividades estatatais são importantes e servem para criar um ambiente menos ofensivo para que bons projetos culturais se estabeleçam, mas nunca podemos deixar que o nosso suor e trabalho esteja atrelado aos ventos incertos dos gestores. Façamos a nossa parte, que o resultado (e o reconhecimento) aparecem. Assim como muitas outras, essas são só algumas provas da cultura potiguar que dá certo. Nos vemos por aí.
AQUI- Foto: Luiz Gadelha
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