Por Otávio Frias Filho
na Revista Piauí
Um abismo parece se abrir entre o século XX e nós. A sensação de distância psicológica em relação a uma época ainda tão recente, tema predileto do historiador britânico Tony Judt, talvez tenha se acentuado por causa do advento digital: os anos 80 foram a última década analógica da História. Também foram o decênio que encerrou o brutal ciclo de violência organizada a partir de credos ideológicos que se proclamavam “científicos”, deflagrado no começo do século pelo comunismo e pelo fascismo, origem da carnificina de proporções inéditas que o marcou.
(...)
Ciosos de suas originalidades, Roland Barthes (semiologia, o estudo dos sistemas simbólicos), Jacques Lacan (psicanálise) e Claude Lévi-Strauss (antropologia) foram reticentes quanto ao rótulo de estruturalistas que lhes era atribuído – e Michel Foucault (história social) dificilmente se encaixaria nele. Mas abordaram seus respectivos objetos de estudo como linguagens inconscientes desenvolvidas em função de parâmetros abstratos e invariáveis, inerentes ao espírito humano, que cabia investigar. Não era outro o postulado que os primeiros estruturalistas, os russos Roman Jakobson e Nikolai Trubetzkoy, haviam tomado de empréstimo à linguística para experimentá-lo na teoria literária e na crítica de arte.
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