terça-feira, 23 de novembro de 2010

A vida pobre de um estudante de jornalismo

Por Duda Rangel
em Desilusões Perdidas

A geladeira coletiva da república. O iogurte com nome do dono dentro da geladeira coletiva da república. Os porres de Balalaika de doer a cabeça por uma semana. A cerveja nunca acompanhada por petiscos no bar. Aqueles espetáculos teatrais chatíssimos, mas gratuitos. Filme brasileiro a dois reais na segunda-feira. O Catraca Livre na lista dos favoritos. A privação dos megashows internacionais. As longas horas de leitura nos pufes da livraria bacana. A saída estratégica da livraria bacana sem comprar um único livro. Motel que cobra por hora, que tem TV de tubo de 14 polegadas no teto. A venda de tudo que é bugiganga no Mercado Livre pra levantar uma grana. A venda do vale-transporte do estágio pra levantar uma grana. As aulinhas particulares de Português pra aluno do ensino médio. A venda de pão de mel, de rifa com nome de mulher, Iranilde, Zuleica, Veridiana, nos corredores da faculdade. As moedas catadas pelos bolsos para o hot-dog na barraca da esquina. A fila imensa do restaurante popular. O incentivo à pirataria. A calça jeans que resiste bravamente ao tempo. O trem lotado. O ônibus lotado. A carona filada no carro do amigo do amigo. O maço de cigarro socializado. A vontade de assassinar o desconhecido mala que ajuda a pagar o quarto da pensão. A saudade filho-da-puta da família que mora longe, mas, paciência, a passagem do busão tá sempre muito cara.

O estudante de jornalismo suporta todos estes perrengues, com a certeza de que a miséria tem dia certo pra acabar. É só uma questão de se formar e conseguir um bom emprego. Tolinho.

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