terça-feira, 9 de novembro de 2010

O que faço com R$ 900

Por Adriana Amorim
no Jornalistas do RN em luto

É, pessoal! A vida de jornalista em Natal não é fácil mesmo! Quero compartilhar com vocês um pouco da minha experiência. Me formei em dezembro de 2005 pela UnP e, desde 2002, era estagiária do jornal onde ainda hoje trabalho, recebendo uma bolsa de R$ 220 mais gratificações por projetos especiais, o que rendia uma média de R$ 500 por mês (no mesmo período, estagiei numa ONG, cuja bolsa era de R$ 250). Em maio de 2006, já não mais na ONG, fui contratada pelo jornal e, na época, o piso era de R$ 700 e pouco (bruto). Em tese, passei a ganhar menos que na época de estagiária, mas como já era profissional, passei a receber mais pelas gratificações dos cadernos extras. Pude, então, sair da casa dos pais, um anseio antigo. Aluguei um kitnet de 12m² (isso mesmo, um 3x4) e fui seguindo em frente. Passei seis meses lá e decidi fazer um empréstimo para comprar uma sala de escritório de 28m² e, ali, morar após uma cara reforma. O dinheiro era apertado. Três anos se passaram e consegui concluir essa dívida, em parte com ajuda dos meus pais (tudo que não queria). Mas, eis que o jornal passou por uma reestruturação e o projeto em que eu atuava deixou de existir. Sem as gratificações, mesmo que sem periodicidade, ficou difícil manter o padrão de vida regrada. Fui, então, atrás de outro emprego. Consegui! Era editora de um portal de gastronomia, onde editava, pautava, escrevia, fotografava, filmava, editava... tudo por R$ 900 (bruto). Como o jornal onde trabalho mudou de endereço e as distâncias passaram a ser absurdas, precisei financiar um carro. A grana do segundo emprego era, basicamente, para manter o carango: prestação, seguro, impostos, combustível, etc. Três meses depois com uma rotina bastante exaustiva, resolvi pedir demissão (só me vinha à cabeça como eu iria 'criar' o carro financiado em 60 meses). A ideia era também pedir para sair do jornal e passar um ano (quem sabe dois) no exterior como babá. Até que, inesperadamente, recebi um telefonema: era o jornal - sem nem imaginar que meu "desejo" seria sair de lá em breve - propondo uma promoção: ser editora. Nem pestanejei. Aceitei sem nem saber quanto ganharia. O difícil foi ter que, em poucos dias, me organizar para morar em outra cidade. Desde abril de 2010, resido em Recife, num apê de 30m², recebendo mais, embora gastando mais também (o padrão de vida continua regrado). De toda forma, a experiência está sendo válida, embora eu sonhe em retornar a Natal. Mas, como a nossa categoria bem sabe, as perspectivas não são animadoras. Vou vivendo por aqui e torcendo para que a esta mobilização traga ganhos reais à classe. Estou longe, mas observando tudo. Grande abraço e parabéns pela iniciativa!"

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