terça-feira, 2 de novembro de 2010
Entrevista - Flávio Guimarães
Um etílico do blues de volta a Natal
Um dos maiores nomes do blues nacional volta à terrinha mais sóbrio e sem a companhia da banda Blues Etílicos – fundadores do ritmo neste Brasil varonil de batuques e samba no pé, de tropicália e Bossa Nova. O gaitista Flávio Guimarães traz na bagagem bodas de prata à frente do Blues Etílicos, sete álbuns solo e a vontade de imprimir a marca do blues em projetos voltados à difusão da boa música originada nos guetos negros norte-americanos, na longínqua primeira metade do século 20. De lá pra cá, o blues se reiventou e nos últimos anos tenta uma volta às origens. É a opinião do gaitista, na entrevista concedida ao Diário de Natal por telefone. Flávio Guimarães inaugura a programação do Clube do Blues no Maranello Bossa & Jazz nesta quinta-feira, às 18h.
Entrevista – Flávio Guimarães
A difusão do Blues no Nordeste já se equipara à aceitação do Sul e Sudeste?
O Blues em Natal deu uma aquecida boa com o Clube do Blues. E no Nordeste cresceu bastante pelo idealismo de uns poucos. No Ceará há eventos de qualidade. Aí, tem o Festival Bossa & Jazz... A cena está aquecida nesse aspecto.
E no plano musical, como o Blues tem caminhado?
Há mistura muito grande entre artistas e bandas. Eles pegam a matéria-prima do ritmo e recriam bastante, produzindo sons bem distintos. Mas no Blues há a coisa da tradição. Nos últimos anos tenho visto bandas aprendendo a tocar o velho Blues. Eric Clapton, Steve van Vaughan beberam do Blues, recriaram o ritmo e influenciaram muita gente. Mas vejo agora uma volta ao Blues dos ‘negões das antigas’. Claro, só veremos esse efeito prático com mais alguns anos. O Blues tradicional é mais complexo, mais sutil. Então, acredito numa maturidade musical que já existe no público amante do ritmo.
Pelo histórico precursor de outros ritmos, o Blues influenciou os bossanovistas?
É a raíz da música popular norte-americana. Nos EUA segregado da década de 50, o branco ouvia o Blues no rádio tocado pelo negro e achava o ritmo mais interessante que a polca. Mas não se podia gravar os negões. Logo os donos de gravadoras buscaram um branco que tocasse Blues. E veio o Elvis, Chuck Berry, Muddy Waters e outros. Para driblar a Ku Klux Klan, eles inventaram a expressão Rock ‘n Roll, que nada mais era do que o Blues tocado por brancos. Agora, as bandas, acostumadas a tocarem Country, nada sabiam do Blues dos negros. Então houve essa mistura natural dos ritmos e surgiu o Rock propriamente dito. Ou seja: o branco não inventou nada. Não existiria nada do Rock não fosse o Blues e os negros.
E a influência chegou à Bossa Nova?
Claro. Esses caras ouviam muito o Jazz – ritmo totalmente influenciado pelo Blues. A melodia das músicas de Tom Jobim são cheias de ‘blue notes’. As partituras aprendidas por Ary Barroso vieram praticamente do Blues, dos Estados Unidos. A obra de Tom Jobim, Aquarela do Brasil e Baixa do sapateiro têm muito de blues e foram muito bem aceitas nos Estados Unidos, por sinal.
Você é o personagem sóbrio do Blues Etílicos?
(risos) Todos nós já fomos muito etílicos. Mas vamos ficando mais velhos e a coisa vai mudando. Inclusive lançamos um DVD. Esperamos mostrar pra vocês em 2011. É uma mistura boa: composições próprias, música brasileira, rock – um som original com o Blues sempre muito presente. O Blues Etílicos não é uma banda de blues propriamente dita. Nunca pretendemos ser. Mesclamos muito os ritmos e criamos um som nosso. Somos das bandas mais ousadas e criativas do Brasil. E me orgulho muito em participar dessa banda há 25 anos.
Flávio Guimarães – Clube do Blues
Onde: Maranello Bistrô (Av. Hermes da Fonseca, Tirol).
Data: quinta-feira
Ingresso: antecipados: R$ 20 / no local: R$ 25 / mesas vip (4 pessoas): R$ 120
Contato: 3082-8652 / 3086-4049
Cronograma:
18h - Abertura: Exibição de vídeos temáticos de acordo com a atração da noite
19h30 - Duo acústico: Paulo Henrique e Cleo Lima - Especial Beatles & Simon e Garfunkel
21h - Show de abertura: The Blue Mountain
22h - Show de Flávio Guimarães
Matéria publicada hoje no Diário de Natal (AQUI)
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