quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Jornalistas, agora somos nós

Enquanto diretores do Sindjorn, participamos eu e Ana Paula Costa de assembleia dos alunos de Comunicação da UFRN semana passada. Estavam acompanhados do ainda idealista professor e jornalista Emanuel Barreto. "Lembro de 1968, quando nos reunimos em assembleias como esta e depois íamos à rua protestar", disse o professor. O "Barretão" inflou ainda mais os já engajados estudantes.

Hoje chega a notícia de que a luta foi válida: conquistaram o sonhado Jornal Laboratório. Houve piquete às 14h. Ficamos de enviar um representante do Sindicato, mas foi impossível pela indisponibilidade de todos. Os que abdicaram de suas atividades profissionais, como eu, Ana Paula e Rudson, nos dedicamos a visitas às redações. Precisávamos convocar a categoria à Assembleia de amanhã (19h30, no Sindjorn).

Deixamos de participar de um momento histórico para os estudantes. Ficarei com a lembrança daquela assembleia de uns poucos reunidos no corredor do Setor 2 do Campus. E me veio o vislumbre de que nós, jornalistas fudidos e mal pagos, também podemos fazer história. Seria até fácil pelo histórico de inércia do Sindjorn. Pela ausência de ganhos substanciais motivados por uma campanha salarial. Seriámos os primeiros. Ou seremos?

Isso depende da mobilização de todos. Todo movimento grevista é de risco. Nossa frouxidão é histórica. Nunca nos arriscamos. Nossa conquista foram 6% de ganho real em 7 anos, quando o salário mínimo foi de mais de 60%. Dados do Dieese informam que os ganhos do flanelinha são, em média, R$ 850, próximos dos nossos R$ 900. O salário do motorista de ônibus é de R$ 1,2 mil. O do gari é de R$ 1 mil...

Enquanto Lula eleva a classe social dos mais pobres, nós chegamos cada vez mais perto deles com perdas salariais anuais. E esse ano será pior: perderemos as poucas garantias sociais que conquistamos nos últimos anos se a contraproposta dos patrões passar por nossa desmobilizada categoria. Em Alagoas, um dia de greve bastou para conquistarem o maior piso salarial do Nordeste.

O delegado da DRT informou que as empresas de transporte, mesmo deficitárias financeiramente, são praticamente obrigadas a cederem às reivindicações dos trabalhadores pela mobilização da categoria. Na primeira negociação com nossos patrões, quase 100 trabalhadores da construção civil se reuniram em frente da DRT para protestar contra os baixos salários, à espera de sua negociação. Nossa representação se contava em uma mão.

Iano Flavio disse agora há pouco no twitter: "Não dá pra falar em Liberdade de Imprensa sem dignidade para os Trabalhadores da Notícia do RN: piso salarial de R$ 900 é o mesmo que censura". E há quem só reclame da imprensa potiguar. Nas redações, o chicote anda solto. E nem queremos alphorria. A escravidão já acabou. Queremos é dignidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário