quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Debate Cultural, promessas e falácias


Tácito Costa definiu o Debate Cultural promovido pela Revista Catorze e o Núcleo de Jovens Artistas como de "alto nível". Concordo, em parte. Candidatos educados, perguntas educadas (nem precisava tanto!), plateia um tanto alterada (a famosa claque) e discurso mesclado entre propostas concretas e total desconhecimento de assunto. Prefiro a definição da amiga Raíssa Tâmisa: "Me mostrou que cada povo tem mesmo o governo que merece".

Percebeu-se pouca preparação dos candidatos. Pudera: junte o "mói" da classe artística que quase lotou a Casa da Ribeira e não se elege um presidente de conselho comunitário. Daí a herança de décadas de mendicância cultural. Mas valeu o alto nível da iniciativa. O proveito do debate foi inquestionável, em minha opinião. Claro, sem a ingenuidade na crença no respeito às falácias e propostas ditas. Não. Proveito na comparação de discursos e no registro para futuras cobranças, por mais inúteis que sejam.

Não aponto vencedor. Tenho minha opinião e meu voto nulo já declarado. Farei uma resumo de perguntas e respostas escritas em rascunho pequeno de papel - suficiente para anotar pontos relevantes do debate ou para a organização transcrever no twitter, em tempo real. E vale o registro de que o governador Iberê faltou mesmo ao evento. No horário, estava em encontro no Versailles com "jovens". De certo, uma "categoria" mais numerosa e influente nas urnas.

Meu destaque foi a promessa de dotação orçamentária de R$ 30 milhões prometida por Rosalba (afora a folha de pagamento) à Fundação José Augusto, a partir da fixação de 1% do ICMS destinado à cultura, e a criação de uma Secretaria Estadual de Cultura da parte de Carlos Eduardo - iniciativa prontamente negada por Rosalba. Vale ressaltar: o orçamento pra cultura em Mossoró na gestão de Rosalba foi ínfimo e durante 6 anos à frente da prefeitura Carlos Eduardo não criou a Secretaria Municipal de Cultura.


Nos 10 minutos iniciais concedidos a cada candidato, Carlos Eduardo leu uma carta compromisso até consistente, ao meu ver. Comentou da "injustificável ausência de política cultural", prometeu a Secretaria, o aumento da renúncia fiscal à Lei Câmara Cascudo, e criar o Fundo Estadual de Cultura. Rosalba prometeu os R$ 30 milhões de dotação orçamentária, "grandes eventos culturais", gerar renda e estabelecer uma ponte com o turismo, investir na formação de plateia e um Festival Nacional de Folclore.

Anderson Foca (DoSol) perguntou acerca da dotação orçamentária. Rosalba repetiu a promessa dos R$ 30 milhões e Carlos Eduardo ressaltou o orçamento próprio da Secretaria de Cultura. Nelson Marques (Cineclube) cobrou a política cultural. Carlos Eduardo insistiu na construção dessa política a partir de setores da Secretaria junto aos artistas. E Rosalba citou a regulamentação do Fundo de Cultura e a construção de um calendário cultural no Estado.

A jornalista Michelle Ferret indagou da utilidade das Casas de Cultura. A candidata do DEM prometeu manter as Casas, mas com ações culturais efetivas. Carlos Eduardo ressaltou o perfil de Dácio Galvão e a gerência firme. Salvo engano, se entendi bem, disse ao final que as Casas ficaram obsoletas (corrigam-me, por favor). E quer saber? Também acho. Papel de incentivo deveria ser municipal. Enfim...

Pedi a Carlos Eduardo mais detalhes dessa Secretaria, como ficaria a FJA e o porquê de durante 6 anos (até disse 4, na hora) ele não criou a Secretaria Municipal nem o Fundo Municipal, também prometido no debate. Solicitei ainda a Rosalba, que deixasse registrado naquela hora, o compromisso ou não da criação dessa mesma Secretaria. O candidato do PDT disse que não houve tempo e citou os vários projetos e iniciativas realizadas em sua gestão. Disse ainda que a FJA ficaria responsável por convênios de cunho nacional e internacional.

E Rosalba disse que o problema da Cultura não é a FJA em si, é fazê-la funcionar. E negou a intenção da Secretaria. Disse ainda que criou uma gerência inédita de cultura em Mossoró. Na tréplica, Carlos Eduardo frisou: "Quem define orçamnto é Secretaria". Nas considerações finais, Carlos Eduardo disse ainda que a cultura não anda porque a Secretaria de Educação e Cultura, em essência, é só de Educação. E a cultura vive do caos da FJA (o "caos", é adjetivo meu).

Em minha opinião, após essas primeiras perguntas, o discurso dos dois candidatos parece ter terminado, se esgotado. E vieram sucessões de respostas inacabadas e algumas até ridículas.

Ramon (Catorze) perguntou das iniciativas de incentivo ao artista. Respostas vazias. Henrique Fontes (Casa da Ribeira) formulou pergunta contextualizada a respeito da dicotomia equivocada entre política cultural e política de eventos e cobrou as intenções do vínculo da cultura com a educação. E acho que nem vale transcrever as respostas, baseadas em oficinas, formação de plateia em escolas ou incentivadas a partir da realização de eventos.

O compositor Esso Alencar perguntou da receptividade dos governantes aos projetos elaborados pelos artistas. Nenhum comentou a respeito de editais (aliás, assunto pouco explorado e citado superficialmente por Rosalba no início do debate). Ambos citaram a convocação de artistas para discutir planejamentos.

Pergunta equivocada e despretenciosa rendeu risadas e provocações. Foi o porquê da falta de transporte público à Zona Norte após as 0h, quando terminam apresentações culturais. Carlos Eduardo pediu que elegessem uma prefeita mais eficiente. E Rosalba retrucou e disse que quando Carlos Eduardo foi prefeito, nada fez, também.

Ridículo foi quando perguntaram o destino da Revista Preá. Os dois candidatos pareciam pensar no bicho e nunca na revista. Rosalba foi chacoteada pela plateia. "Se for algo relevante, manteremos". E Carlos Eduardo, que criou a Brouhaha, poderia dar um banho na resposta. Mas respondeu o mesmíssimo vazio. As tréplicas para a mesma pergunta mereciam um tomate jogado - repetiram a mesma coisa.

A última pergunta foi acerca dos projetos para o circo. Carlos Eduardo colocou como uma das prioridades e Rosalba prometeu circos itinerantes e oficinas.

Nos discursos finais, sequências de falácias. Carlos Eduardo disse ter investido praticamente os mesmos R$ 4 milhões anuais destinados à cultura pelo Governo só com a realização do Natal em Natal, mesmo com orçamento oito vezes menor. Sabemos que não é por aí. R$ 4 milhões são apenas da renúncia da Lei. Há créditos suplementares aos montes, afora o ridículo orçamento da FJA. Rosalba frisou os R$ 30 milhões. E acredite nesse valor quem for sobrinho de Papai Noel.


Fotos: Sérgio Vilar

10 comentários:

  1. Muito bom Sérgio, foi bem por aí mesmo!

    Mas o melhor é que está tudo gravado, quero ver desdizer depois.

    abração

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  2. cada dia mais a confirmação do acerto. Também voto nulo. NULO como o são candidatos e eleitores.

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  3. Se Tiririca estivesse lá diria: "Ô debatezinho linnnnndo... e eu vou me elegeeeeeeeeeer"...

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  4. Carlos Eduardo conseguiu perder meu voto. O jeito é também ir pro time do nulo. ô eleiçãozinha dispensável!

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  5. "Alto nível" em debate político é sinônimo de combinação...patifaria...negócio...

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  6. Iberê foi esperto. Eventos dessa natureza nada acrescentam. Nem aos candidatos, nem à cultura. Tudo encenação. Manjado! Também voto nulo.

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  7. os 3 principais candidatos ainda são os representantes das capitanias hereditárias...sim, ainda não nos livramos aqui no RN do ranço da casa grande. seja lá quem for eleito temos, nós os que vivem de cultura, insistir sempre na criação da secretaria de cultura.

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  8. Fui ler seu texto sobre o debate e esqueci o arroz no fogo. Queimei meu arroz, que nesse momento é mais importante que a cultura.

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  9. É por ai, meu caro Sérgio.
    Lembrando que Rosalba foi prefeita de Mossoró tres mendatos e não conseguiu sequer regulamentar a Lei Municipal de Cultura, que não existe até hoje. O Fundo de Cultura ainda é um sonho distante de Mossoró.
    Quanto aos grandes eventos - de resultados duvidosos, sempre pagou fortunas aos que vêm de fora e uma miséria para os artistas locais, como de praxe -, deve neles ser onde pretende gastar as 30 milhas.

    Carlos como se disse teve dois mandatos e não criou o fundo municipal de cultura. A idéia da Secretaria até que é válida porque a fjaafundou.

    Tb tô fora. Nulo neles!

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  10. Sérgio, cara, tu disse tudo nesse texto.

    Valeu por ter comparecido ao debate.

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