Por Julio Daio Borges
no Digestivo Cultural
Não se sabe se para vender mais revistas (revistas ainda são vendidas?) ou se para satisfazer o ímpeto revolucionário de seu editor-chefe, a Wired veio estampando, na capa, nada mais nada menos que a “morte” da Web. Depois de tantas mortes anunciadas – algumas verdadeiras “mortes morridas” –, como a do CD, dos jornais, dos DVDs, até dos livros, matar o que, há quase 20 anos, tem sido praticamente sinônimo da internet parece um exagero, a princípio.
Vale esclarecer que a internet é a rede (“física”) e que a Web é a interface gráfica – inventada por Tim Berners-Lee em 1992 – pela qual navegam browsers.
A tese da Wired se baseia no fato de que, nos Estados Unidos, todos estão supostamente migrando do desktop para os chamados “dispositivos móveis”. Assim, o navegador ou browser (no PC) iria perdendo espaço para “aplicativos” em celulares como o iPhone e em tablets como o iPad.
Segundo a Wired, deixaríamos progressivamente de navegar pela Web – uma plataforma, historicamente, mais aberta à inovação – para se deixar seduzir por “aplicações fechadas” como o iTunes, da Apple, e a Kindle Store, da Amazon.
As consequências, até ideológicas, disso é que a internet terminaria dominada por gente como Steve Jobs, Jeff Bezos, até Eric Schmidt e Mark Zuckerberg. Enquanto outras iniciativas menos “vendáveis” – digamos assim –, como Wikipedia e WikiLeaks, deixariam de fazer sentido.
Mais dia menos dia, a internet cairia na vala comum do velho mainstream, onde uma infinidade de players cederia lugar a uma meia dúzia de três ou quatro. Como acontece, justamente, na televisão, no rádio, na imprensa impressa... e em qualquer outra categoria da velha mídia que você conseguir elencar.
Parece também que existe um certo “cansaço”, por parte do velho mainstream media, de haver lutado, há quase duas décadas, para conquistar a Web e, ao contrário do Google, não ter encontrado (ainda) uma fórmula (leia-se: um modelo de negócio).
Assim, enterrar os browsers (onde ninguém paga por nada) e introduzir os “aplicativos” em iPhones e iPads (onde nos obrigariam a pagar) soaria como música aos ouvidos dos decadentes barões da mídia. Entoando o canto da sereia, ninguém menos que Steve Jobs – o homem que fez as pessoas pagarem, novamente, por música (e que poderia, em tese, convencê-las a pagar por outros tipos de mídia digital).
Todo esse discurso não parece combinar com a Wired e, sobretudo, com seu editor-chefe, Chris “Free” Anderson. A revista do futuro evocando o passado e o editor do “almoço grátis” nos incitando a pagar. A justificativa talvez resida no fato de a Wired pertencer a um (velho) grupo de mídia (que tenta sobreviver), e ter, recentemente, contratado um novo editor, Michael Wolff (coincidência ou não, o biógrafo de Rupert Murdoch).
A revista de papel – antes de tudo – e o aliado do maior comprador de jornais impressos dos últimos anos. Chris “Long Tail” Anderson parece meio deslocado nestes “novos tempos” da Wired e, para compensar, chama, para um debate, Tim “Web 2.0” O'Reilly e John “The Search” Battelle. A conversa do trio, no fim das contas, termina mais interessante que o discurso retrô de Wolff. Ainda assim, a capa da Wired indica que o velho mainstream não vai capitular tão facilmente e que a velha mídia deve morrer lutando...
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